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Horror de massacres étnicos e políticos acentuam o caos no Paquistão

Agência France-Presse
postado em 29/08/2011 17:15
KARACHI - Quadrilhas de criminosos travam uma luta feroz pelo poder e por espaço na capital financeira do Paquistão, Karachi, e ameaçam desestabilizar todo o país. Vagando em meio a corpos torturados que ocupam o necrotério de Karachi, Amir Ali aperta contra o peito a foto do casamento de seu irmão que desapareceu, sem dúvida mais uma vítima dos massacres políticos e étnicos que banham de sangue a enorme cidade paquistanesa.

Os registros de autópsias feitas às pressas colocados junto aos cadáveres envoltos em lençóis brancos atestam o sofrimento vivido pelas vítimas antes de serem colocadas em sacos e lançadas em fossas

Os sacos se tornaram uma marca de muitos assassinatos praticados pelos grupos criminosos nas disputas políticas e étnicas de Karachi. Mil pessoas morreram este ano nesta guerra entre facções e clãs no coração da metrópole de 18 milhões de habitantes, que concentra uma grande variedade étnica. Mais de cem pessoas foram mortas só nesta última semana, a pior onda de assassinatos ocorrida em Karachi em 16 anos de violência crônica.

[SAIBAMAIS]Esses atos de violência ocorrem há anos e marcam a divisão da região entre os partidos Muttahida Qaumi Movement (MQM), partido que governa a cidade e representa os paquistaneses vindos da Índia depois da divisão de 1947 - os Mohajirs; o Partido do Povo Paquistão (PPP), que governa o país; os pashtuns - etnia das áreas de fronteira com o Afeganistão no noroeste - , e os baluches - do sudoeste.

A última onda de assassinatos envolveu principalmente o MQM, os pashtuns ligados ao partido laico Awami National Party (ANP) e grupos de cada etnia que disputavam os mercados das drogas e dos jogos ilegais na cidade.

"Nós os procuramos nos hospitais, delegacias e agora nos necrotérios", lamenta Amir Ali, um pedreiro de 45 anos. Seu irmão, contudo, não estava ligado a nenhum partido político, assegura ao verificar os rostos ensanguentados de 20 cadáveres. "Se Karachi for destruída, todo o país será destruído", afirma Sharfudin Memon, conselheiro no Ministério do Interior da província de Sind (sul). O gigantesco porto e seus arredores correspondem a 60% da atividade econômica do Paquistão, segundo economistas.

Desde o início do ano, as autoridades enviam a Karachi centenas de reforços policiais e tropas paramilitares para conter a violência, tudo em vão. Para agravar a situação, as forças de segurança são acusadas de favorecerem ou o MQM ou o PPP e de serem extremamente violentas. Muitas vezes, recebem autorização para atirarem contra qualquer suspeito.

No hospital Abbasi Shaheed, Zubair Choohan tosse por um tubo. Sua boca está costurada e uma gota de sangue escorre de um olho inchado. Enquanto dirigia foi atingido no rosto por uma bala perdida. Naquele momento policiais atiravam em um homem que era perseguido.

No quarto ao lado, um jovem trabalhador pashtun se recupera dos ferimentos de bala em um braço e em uma perna. Nenhum dos dois faz críticas aos partidos com medo de represálias. Cada partido, ou seja, cada etnia, disputa zonas de influência nos bairros, assim como o comércio, legalizado ou não.

Com a proximidade das eleições legislativas em 2013, a violência tem poucas chances de diminuir à medida que os partidos se acusam mutuamente de "limpeza étnica".

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