Agência France-Presse
postado em 30/08/2011 11:40
Trípoli - "Por favor, me perdoe, eu fui forçado a fazer isso". Em Trípoli, um rebelde que chega de Zawiyah acaba de reconhecer um membro da guarda de Kadafi. O homem, amendrontado, tenta se explicar, pronto para fazer qualquer coisa em troca do perdão.Foi por acaso que Nizar Hussein encontrou o homem. É a primeira vez que ele vai até Trípoli depois que a capital foi tomada. Uma visita ao seu tio. Algumas palavras pela rua e, de repente, diante de uma casa em um bairro próximo de Bab al-Aziziya, o homem aparece.
É um membro da brigada mais leal a Muamar Kadafi, segundo o rebelde. Ele servia em Zawiyah, cidade costeira que fica 40 km a oeste de Trípoli. Sem outra escolha, o homem tenta se explicar. "Eu sou inocente". Depois pede desculpas para o rebelde armado com um fuzil e uma pistola. "Me perdoe". E suplica. "Eu queria só um carro. A guarda de Kadafi dizia que dariam carros, dinheiro e casa aos voluntários. Eu tenho filhos, estou com vocês".
"Não encoste nele", grita para um rebelde Mohamed al-Fezzani, membro do comitê popular criado pelos jovens rebeldes do bairro. "As novas autoridades se ocuparão dele. Não diga para ninguém onde ele está. As pessoas podem estar furiosas porque ele matou o pai ou a mãe de um deles".
A troca acaba sem gritos nem violência. "Eu posso te dar qualquer coisa, a qualquer hora. Por favor, me perdoe", pede o homem de 40 anos. "Não se preocupe", responde friamente Nizar Hussein.
Ao partir, o rebelde que reconheceu o membro da brigada de Kadafi, ex-militar das forças especiais, de 30 anos, explode. "Ele estava em Zawiyah. Eu o vi com o seu grupo na Praça Verde. Ele matou, sequestrou, violentou", repete aos gritos. "Ninguém sabia onde ele se escondia. Eu tenho vontade de matá-lo por tudo o que fez. Ele merece morrer".
O rebelde tem dificuldades para controlar a raiva enquanto alerta os companheiros encarregados de capturar as forças de Kadafi.
Durante este tempo, na sua casa, o pai, Youssef, que se recusa a dar o sobrenome da família por medo de represálias, apela ao membro do comitê popular. "Você precisa fazer alguma coisa para resolver o problema do meu filho, encontrar uma solução para dar segurança a ele", pede.
Aqui, como em outros lugares, uma revista é feita na entrada e na saída do bairro, os carros são parados, os que não moram no local são interrogados sobre seu destino, sobre a família que vão visitar.
Em caso de problema, já que os membros das forças de Kadafi foram violentamente espancados por rebeldes nos dias seguintes à entrada na capital, o pai confia nos vizinhos, em sua maioria membros da revolta.
Ele era integrante de "um comitê revolucionário", um dos pilares do regime, segundo os rebeldes. Ele não confirma isso, reconhece apenas que trabalhava com os militares. Ao contrário das outras famílias pró-Kadafi do bairro que fugiram, ele ficou na sua casa.
"Eu não sou o único pró-Kadadi do bairro. Todo mundo o amava, todo mundo o apoiava. Era a minha obrigação enquanto as forças do governo estavam aqui. Ele era o presidente desse país e eu sou apenas um cidadão. Antes eu era leal ao Kadafi, agora eu serei aos revolucionários", explica.
Não muito à vontade, Youssef diz que não tem medo e vai esperar para ver. No momento está tudo bem com os rebeldes, que trazem alimentos e água para os moradores. Mesmo assim, sua vida durante a era Kadafi "era boa", diz na ponta da língua. "Eu vivia confortavelmente, tinha um cheque no fim de cada mês, comia, trabalhava, era a paz".