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Jovens do Congresso Africano desafiam a polícia para apoiar líder polêmico

Agência France-Presse
postado em 30/08/2011 16:10
JOHANNESBURGO - Centenas de jovens militantes do Congresso Nacional Africano (ANC), partido atualmente no poder na África do Sul, enfrentaram a polícia nesta terça-feira (30/8), em protesto realizado para apoiar seu líder Julius Malema, que compareceu diante da comissão disciplinar do partido por insubordinação.

Um policial foi levado ao hospital por ter sido atingido por uma pedra e cinco jornalistas sofreram ferimentos leves. Um dos jovens envolvidos foi preso, de acordo com a polícia.

Julius Malema, presidente da Liga da Juventude da ANC, foi convocado a comparecer diante da comissão de disciplina por ter "prejudicado a reputação do partido" e ter "provocado divisões" internas. Ele corre o risco de ser expulso por, entre outros motivos, ter cobrado uma mudança de regime em Botsuana, país vizinho, ao chamar esse governo de "marionete dos americanos".

Este jovem político de 30 anos, conhecido por seus discursos polêmicos, já causa incômodo no seu próprio partido há bastante tempo. Auto-proclamado campeão do antiimperialismo e do anticapitalismo, ele mostrou-se favorável à nacionalização das minas e à expropriação sem compensação dos fazendeiros brancos.

Nesta terça-feira pela manhã, centenas dos seus partidários se reuniram diante da sede do ANC e atiraram pedras e garrafas em direção às autoridades. Os policiais responderam com jatos d;água, gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Os episódios de violência foram condenados por diversas organizações do país. Aos deixar a audiência, Malema fez um discurso no qual pediu para que os manifestantes agissem com calma e respeito, mas voltou a afirmar que é o "melhor defensor dos mais pobres entre os pobres". Na noite anterior, os jovens tinham acampado nos arredores da sede do ANC e marcharam de manhã até o prédio ande aconteceu a audiência.

Bloqueados por um cordão policial, eles começaram a desafiar as autoridades. Apesar dos confrontos, a audiência foi realizada como previsto. "O processo continua. Não estamos intimidados", declarou diante de jornalistas o secretário geral da ANC Gwede Mantashe.

De acordo com seus partidários, Malema está apenas sendo vítima da sua franqueza e da ousadia dos seus discursos que incomodam o poder. "Malema chamou a atenção para o problema delicado da redistribuição das riquezas neste país", explica Michael Siluma, de 17 anos, que confessa ter matado as aulas para apoiar seu líder. "É por isso que ele está sendo perseguido. Ninguém tem a coragem necessária para abordar o assunto. Ele é o único a fazê-lo e agora querem silenciá-lo".

O jovem político, que leva uma vida de luxo numa mansão dos bairros nobres de Johannesburgo, faz questão de divulgar uma imagem de rebelde. Ele já teve problemas com a justiça por ter tocado numa das suas comitivas uma canção da época do apartheid que incentiva a "matar o boer" (o fazendeiro branco). Esta mesma música foi cantada nesta terça-feira pelos manifestantes após o confronto com a polícia.

Malema também chamou os americanos de "imperialistas com sede de sangue" após a intervenção das forças da Otan na Líbia. Porém, o fato de ele levar uma vida de luxo levantou suspeitas da imprensa e levou a justiça a abrir um inquérito sobre suspeitas de corrupção em licitações nas quais foram beneficiadas empresas ligadas a ele.

Apesar dessas polêmicas, ele ainda é o ídolo de milhões de jovens negros, num país que tem uma taxa de desemprego de 25% (de acordo com as estatísticas oficiais do governo) e no qual as desigualdades econômicas ainda são gigantescas, 17 anos após o fim do regime racista do apartheid.

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