Renata Tranches
postado em 31/08/2011 08:00
Os rebeldes líbios deram um ultimato ao coronel e aos últimos combatentes leais a ele. A ordem é se renderem e entregarem as cidades sob seu domínio até sábado, quando estarão encerradas as celebrações do Eid ul Fitr, que marca o fim do mês sagrado islâmico do Ramadã. Caso contrário, as forças do Conselho Nacional de Transição (CNT, coalizão política da oposição) prometem se ;impor militarmente; nas áreas que ainda não controlam. A exigência ganhou o aval da Organização do Tratado da Atlântico Norte (Otan), que comanda uma intervenção bélica contra Kadafi, e fez aumentar o temor de que os combates, que segundo os rebeldes já deixaram mais de 50 mil mortos, possam se acirrar.O presidente do CNT, Mustafah Abdel Jalil, explicou que há negociações em andamento com autoridades em cidades como Sirte, terra natal do ditador. Mas o prazo para um acordo expira com o fim do Eid ul Fitr. ;A partir de sábado, se não houver uma saída pacífica à vista, vamos nos impor militarmente;, declarou Abdel Jalil em Benghazi, quartel-general da revolução, onde ele aguarda até que as condições de segurança em Trípoli lhe permitam deslocar-se para a capital do país. ;O lançamento da batalha final é iminente;, reforçou o porta-voz militar dos rebeldes, o coronel Ahmed Omar Bani.
O ultimato rebelde foi seguido pela declaração da Otan de que manterá os bombardeios na Líbia enquanto os partidários de Kadafi ;representarem uma ameaça para a população civil;. Segundo o coronel candadense Roland Lavoie, porta-voz da operação Protetor Unificado, conduzida pela aliança, o ex-homem forte líbio segue no comando de suas tropas, que continuam combatendo os rebeldes. ;Está provado que ele (Kadafi) está em condições de exercer algum nível de comando e controle;, afirmou.
O recrudescimento dos ataques da Otan serve como reforço ao ultimato dos rebeldes, cujo poderio bélico vai pouco além do exibido até agora. ;Não é possível fazer muito mais do que já tem sido feito;, analisa o especialista de defesa Alexandre Fuccille, professor de relações internacionais da Facamp e colaborador da Universidade de Defesa Nacional (EUA).
Na opinião de Fuccille, não haveria nenhuma surpresa se a aliança ocidental prolongasse suas operações e aumentasse os bombardeios contra os bastiões de Kadafi. A Otan já se valeu do mesmo expediente para ajudar os rebeldes quando impôs uma zona de exclusão aérea, a partir de março, apoiada na Resolução n; 1.973 do Conselho de Segurança da ONU. ;Quando bombardearam as cidades líbias, isso não tinha nada a ver com a criação de uma zona de exclusão aérea. O mandato (da ONU) não previa isso;, lembra o especialista.
Petróleo
Ainda em meio aos esforços para consolidar seu controle territorial, o CNT tenta implementar decisões administrativas e anunciou que nos próximos dias colocará em operação a maior parte dos poços de petróleo. O membro do Departamento de Petróleo e Finanças da coalizão rebelde, Ali Tarhuni, ponderou, porém, que as exportações serão retomadas gradualmente. Ele garantiu que a refinaria de Zawiya, essencial para o fornecimento de combustível à capital, e o porto de Brega entrarão novamente em operação ;no futuro próximo;.
Para fazer o país retornar à normalidade, o CNT esperar fazer uso dos ativos do regime de Kadafi no exterior, que estavam retidos e começam a ser liberados. A ONU autorizou o Reino Unido a descongelar US$ 1,6 bilhão, depois de a China ter levantado sua obstrução à medida. A França aguarda autorização para colocar à disposição dos rebeldes fundos de 5 bilhões de euros, e a Alemanha se movimenta para liberar 1 bilhão de euros. Na semana passada, os Estados Unidos receberam permissão para enviar à Líbia cerca de US$ 1,5 bilhão.
Brasil irá à reunião de Paris
O governo brasileiro confirmou ontem que estará presente à reunião de amanhã, em Paris, na qual representantes de vários países discutirão iniciativas e mecanismos para apoiar a reconstrução da Líbia. O encontro, para o qual foram convidados ;países amigos; da nação árabe, foi convocado no fim da semana passada pelo presidente Nicolas Sarkozy, que fez questão de envolver no processo países que fizeram reservas à intervenção militar contra Muamar Kadafi. Além do Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha se abstiveram na votação em que o Conselho de Segurança da ONU autorizou a ação. O Itamaraty estuda ainda o caráter do encontro ; se será técnico ou político ; para definir quem representará o país. O enviado poderá ser o embaixador no Egito, Cesário Melantonio Neto, que tem mantido contatos com os rebeldes líbios, ou o embaixador na França, José Maurício Bustani, ou ainda um diplomata do Departamento de Oriente Médio