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Rebeldes negociam o apoio à transição democrática na Líbia

Renata Tranches
postado em 01/09/2011 08:00
Na véspera do 42; aniversário da chegada de Muamar Kadafi ao poder na Líbia, seus opositores traçavam ontem um futuro para o país sem o ditador, negociando com a comunidade internacional um apoio à transição democrática, mas sem interferência militar estrangeira. As conversações prosseguem hoje durante a conferência dos Amigos da Líbia, em Paris, na qual cerca de 60 delegações se reunirão com o chefe do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdul Jalil. O encontro poderá dar ao órgão político dos rebeldes sua primeira plataforma internacional. O Brasil enviará Cesário Melantonio Neto, embaixador no Egito, como representante do governo. O diplomata é o responsável pelo diálogo entre o Itamaraty e os rebeldes. Os demais países do Brics (bloco formado por Rússia, Índia e China) também participarão da reunião.

O evento de hoje ; coliderado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pelo premiê britânico, David Cameron ; deverá abordar a política e a economia. O chanceler da França, Alain Juppé, instou o CNT a divulgar o ;caminho político que seguirá e listar as demandas do país; para estabelecer um estado de direito. Ontem, líderes que comandam interinamente a Líbia rejeitaram a participação militar internacional no país, segundo o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Ian Martin. O CNT informou que o país não precisa de ajuda externa para manter a segurança, mas deve solicitar auxílio para criar uma força policial e organizar eleições, previstas para ocorrer 240 dias após declarada a ;libertação do país;.

Ainda ontem, um dia após o ultimato dado pelos rebeldes a Kadafi para a entrega pacífica de algumas cidades, um dos filhos de Kadafi enviou uma mensagem em tom desafiador aos opositores. Saif Al-Islam fez um apelo à ;resistência; e disse que seu pai está bem. ;Falo a vocês do subúrbio de Trípoli. A resistência continua e a vitória está próxima;, afirmou Saif, em mensagem de áudio divulgada pela rede de tevê Arrai, com sede em Damasco. Ele ameaçou os rebeldes e assegurou que ;20 mil homens armados; os aguardam se tentarem atacar Sirte, a cidade natal de Kadafi.

Contradição
Enquanto um dos herdeiros fala em resistir, outro pode estar pensando em se render. O chefe das forças contrárias a Kadafi em Trípoli, Abdel Hakim Belhadj, revelou que Saadi ; o terceiro filho do ditador ; telefonou-lhe e propôs uma oferta de rendição. ;Hoje (ontem) tive uma conversa por telefone com Saadi, na qual pediu para fazer parte da revolução. Ele quer garantias de que poderá voltar para seu povo e para Trípoli;, disse Beldhaj à rede de tevê Al-Jazeera. No fim de semana passado, foi divulgado que Saadi tinha sido capturado pelos rebeldes, mas esclareceu-se mais tarde que ele estava desaparecido, como vários outros membros da família de Kadafi. Na segunda-feira, a segunda mulher do coronel e três de seus filhos foram abrigados na Argélia pelo governo daquele país.

Kadafi, cujo paradeiro continua desconhecido, chegou ao poder na Líbia em 1; de setembro de 1969, com um golpe de estado que depôs o rei Ídris I. O jovem militar, com 27 anos à época, passou a ser o chefe da instituição governamental, o Conselho do Comando Revolucionário. Hoje, ele é procurado em seu próprio país. O comandante militar do CNT declarou, em entrevista à agência de notícias France-Presse, que há 80% de certeza que Kadafi esteja na cidade de Bani Walid, a sudeste da capital Trípoli. Ahmed Darrat, que assumiu o Ministério do Interior enquanto um novo governo não é eleito, afirmou à mesma agência que os rebeldes têm o ;direito de matar; o ditador. O comando anunciou ainda a prisão de Abdelati Al-Obeidid, ministro das Relações Exteriores de Kadafi.

Em Trípoli, na outrora chamada Praça Verde ; agora rebatizada de Praça dos Mártires ;, milhares de pessoas celebraram o fim do jejum do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos. Homens, mulheres e crianças se encontraram diante do Castelo Vermelho, uma fortaleza cuja muralha costumava ser usada como tribuna por Kadafi para falar a seus partidários

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