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De olho nas eleições, Obama aposta em plano de recuperação da economia

Às vésperas do aniversário de 10 anos de um dos maiores golpes sofridos pelos Estados Unidos em sua história, Barack Obama se vê de frente a um inimigo que parece tão ameaçador quanto o terror: o ceticismo dos americanos. Uma década depois dos ataques de 11 de setembro, além da guerra contra o terrorismo, o presidente enfrenta uma economia em queda, o aumento do desemprego e uma dura batalha com a oposição, que deixam os eleitores desconfiados sobre sua capacidade de liderar a nação. Grande parte da população não acredita em uma recuperação imediata da economia, e as últimas pesquisas de opinião apontam a maior queda na popularidade de Obama desde o início do governo. Ainda faltam 15 meses para as eleições presidenciais, mas a campanha já começou. Não apenas para os republicanos, que ainda precisam escolher um candidato oficial, mas para o chefe de Estado, que luta para reconquistar apoio e ressuscitar o espírito do ;sim, nós podemos; que o levou à Casa Branca.

Para Obama, o caminho da vitória está principalmente na recuperação política e econômica. Com a perda da confiança financeira e um índice de desemprego de 9%, o presidente pretende anunciar um novo plano para dar fôlego à economia durante um discurso no Congresso marcado para a próxima quinta-feira, a pedido da oposição. Obama acaba de voltar de uma folga ao lado da família no balneário de Martha;s Vineyard, ilha do estado de Massachusetts conhecida por abrigar casas de ricos e famosos, e foi criticado pelos republicanos, que exigiam o cancelamento do recesso do governo. Porém, os oito dias que o chefe de Estado se manteve afastado não foram de descanso total e serviram para a elaboração de estratégias de campanha.

Depois de uma longa luta no Congresso para uma decisão sobre o aumento do teto da dívida americana, Obama deve se afastar cada vez mais do cenário político de Washington, como já tem feito. Durante sua turnê de ônibus pelo Meio-Oeste no mês passado, ele fez duras críticas aos republicanos e aos parlamentares que estavam impedindo que os EUA ;conseguissem seguir adiante;. Convencer os americanos de que a oposição age de forma a piorar ainda mais a situação do país parece ser outro ponto do plano rumo à eleição. ;As pesquisas mostram que apenas 13% das pessoas aprovam o trabalho dos congressistas. E muitos acreditam que os republicanos foram o problema no caso da votação do teto. Então, se Obama puder ajudar o público a enxergar esse erro de uma forma não confrontante, melhor para ele;, comenta John Aldrich, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Duke.

Há tempo
Porém, para ter uma campanha vitoriosa, o presidente não pode simplesmente apontar as falhas do sistema político e de seus adversários. Ele já sofre um bombardeio de críticas dos republicanos e não deve jogar o mesmo jogo dos seus concorrentes. ;Para que ele fique mais forte, é preciso que a economia fique mais forte. Ainda há tempo para que os números do desemprego caiam;, aponta Aldrich. ;Agora, a melhor estratégia é sair do caminho. Existe uma expressão na política americana que diz: ;Melhor não interromper seu adversário se ele está atirando no próprio pé;. E não faltam razões para imaginar que os republicanos devem, nos próximos meses, começar a atacar uns aos outros;, completa.

Mesmo a mais de um ano para as eleições, a disputa por votos está acirrada. Nas últimas pesquisas, divulgadas pelo Instituto Quinnipiac University Polling, Obama aparece empatado com um dos candidatos republicanos, Mitt Romney, com 45% das intenções, e ganha por pouco do governador do Texas, Rick Perry ; 45% a 42%. Segundo Allan Lichtman, professor de história da American University em Washington, o presidente tem tempo de preparar sua campanha e deve se sair bem mais uma vez. ;Obama é um excelente candidato, já provou isso. Ele precisa continuar com seus princípios em 2012 e mostrar por que a alternativa republicana seria um desastre para a nação. Ser realista é uma boa estratégia. Ele teve problemas antes por ter elevado demais as expectativas e precisa evitar o mesmo erro desta vez;, analisa o especialista em eleições americanas.