Agência France-Presse
postado em 05/09/2011 14:58
Santiago - O julgamento do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak foi retomado nesta segunda-feira (5/9) no Cairo, com a audiência de autoridades da polícia sobre a repressão à revolta do início do ano, em uma atmosfera marcada por incidentes dentro e fora do tribunal. O ex-chefe de Estado, acusado de assassinato e de corrupção, compareceu deitado em uma maca a esta terceira audiência, que teve início no dia 3 de agosto.Aos 83 anos, Mubarak sofre de problemas cardíacos e depressão, além de algumas informações contraditórias indicarem um eventual câncer. Ao contrário das duas outras audiências, esta continuou até o fim da tarde e não foi transmitida pela televisão, que exibiu mesmo assim imagens da chegada de Mubarak em uma ambulância e do entorno do prédio.
Brigas entre dezenas de partidários e adversários do ex-presidente foram registradas próximo ao local do julgamento antes da chegada do ex-chefe de estado. Os pró-Mubarak gritavam "Nós não o abandonaremos", enquanto os adversários diziam "Punição, punição, mataram nossos filhos a tiros". Também houve confronto entre a polícia e familiares das vítimas que tentaram forçar a entrada da academia de policia, onde se encontra o tribunal penal encarregado de julgar Mubarak. Mais de 10 pessoas ficaram levemente feridas nos incidentes, e a polícia efetuou em torno de 20 detenções, segundo a agência oficial Mena.
Na sala de audiências, o ambiente por vezes se tornou tenso, com uma reação violenta por parte das famílias das vítimas quando um advogado de defesa exibiu uma foto de Mubarak. Esta audiência é dedicada a definir a responsabilidade do ex-chefe do país pelas mortes dos manifestantes durante a revolta de janeiro/fevereiro que forçou sua renúncia no dia 11 de fevereiro. O assessor de comunicação da polícia, Hussein Said Mursi, declarou ao tribunal que ouviu policiais mencionarem o uso de armas automáticas contra os manifestantes. "Eu ouvi oficiais dizerem que essas armas foram utilizadas", acrescentou. Ele não responsabilizou ninguém especificamente, alegando não estar ciente de instruções formais para atirar.
Outros membros da polícia serão ouvidos para descobrir se o ex-presidente está diretamente ligado às ordens dadas para abrir fogo contra a multidão. Se esta responsabilidade for comprovada, Mubarak poderá receber pena de morte.
A repressão à revolta deixou oficialmente cerca de 850 mortos. A maioria dos atos de violência foi cometida pela polícia e por homens do partido do ex-presidente. Mubarak, acusado também de enriquecimento ilegal, é julgado junto de seus dois filhos Alaa e Gamal, e do ex-ministro do Interior Habib el-Adli. Este processo é acompanhado com ansiedade pelos egípcios, que viveram décadas marcadas pela impunidade dos dirigentes do país.
Mubarak é o primeiro líder de um país deposto pelas revoltas que sacudiram o mundo árabe desde dezembro a comparecer pessoalmente à justiça. O tunisiano Zine El Abidine Ben Ali, exilado na Arábia Saudita depois da sua queda em janeiro, foi julgado à revelia na Tunísia. O líbio Muamar Kadhafi ainda não foi capturado.