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Comandante afegão Massud, morto há 10 anos, continua sem sucessor

Agência France-Presse
postado em 06/09/2011 10:54
Vale de Panshir - O comandante que combatia o talibã afegão, Ahmed Shah Massud, assassinado há 10 anos, dois dias antes dos atentados de 2001 nos Estados Unidos, segue sem sucessor, no momento em que o Afeganistão está muito longe do país unido e soberano que ele imaginou.

Massud, que antes combateu os soviéticos, morreu em um atentado suicida praticado por supostos membros da Al-Qaeda que se fizeram passar por jornalistas na província de Tajar, no nordeste do Afeganistão, e que explodiram uma bomba ao se aproximarem dele.

Massud "continua sendo extraordinariamente popular, mas (...) não tem sucessor", explica o especialista em geopolítica e conflitos armados Gerard Chaliand, que conheceu o comandante afegão em 1982.

Segundo Yossef Yanesar, um dos cinegrafistas do falecido comandante, "o projeto de Massud era que o Afeganistão fosse um país livre, unido e soberano. Ninguém mais concebe as coisas assim. (Os líderes atuais) só pensam em encher os bolsos", acrescenta.

Para Baba Hakimula, que lutou ao seu lado a partir de 1979, quando as tropas soviéticas invadiram o Afeganistão, "Massud nunca aceitou que a Otan e os Estados Unidos estivessem presentes" no Afeganistão, como ocorre atualmente.

"Se estivesse vivo, nunca aceitaria", confirma Fahim Dashty, chefe de redação de uma revista fundada por Massud, a Kabul Weekly, que se encontrava junto ao comandante assassinado pouco antes de sua morte.

"Considerava que outros países tinham que ajudar a resistência afegã, mas não intervir. Não queria que existissem (soldados) estrangeiros no Afeganistão", confirma Yanesar.

Para Dashty, a unidade nacional era fundamental no projeto de Massud, "ao contrário do que outros dirigentes fazem, como o presidente Hamid Karzai", que prefere "usar as diferenças étnicas".

"Falta ao Afeganistão de hoje um líder carismático, como Massud", afirma Harun Mir, analista político afegão, que foi assistente pessoal do comandante de 1993 a 1999.

No entanto, para alguns moradores de Cabul, Massud foi, principalmente, mais um a provocar o caos registrado durante a entrada de combatentes na capital, após a queda do regime comunista em 1992, que desencadeou uma guerra civil entre chefes da resistência.

Fica difícil debater sobre Massud em um país que o declarou oficialmente "herói nacional".

"Sabe-se pouco de Massud (...) Aos seus sucessores, só interessa utilizá-lo como capital político", lamenta Mir.

Após sua morte, Massud se transformou em algo como um modelo, mas "o que aconteceria se estivesse vivo?", perguntou Chaliand.

"Às vezes, penso que é melhor que tenha morrido (...) porque teria custado muito a ele se adaptar ao que está acontecendo agora", conclui Dashty.

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