Renata Tranches
postado em 10/09/2011 08:00
Em menos de um mês, Muamar Kadafi passou de líder da Líbia a foragido da polícia. Com o mandado de prisão já expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) desde junho, a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) emitiu ontem um alerta vermelho de busca pelo ditador, seu filho Saif Al-Islam Kadafi e o ex-diretor de inteligência do regime Abdullah Al-Senussi. Todos são acusados de crimes contra a humanidade, incluindo assassinatos e perseguição. O alerta vermelho foi um pedido do procurador do TPI, Luis Moreno-Ocampo, e tem a função de determinar que todos os 188 países signatários do Tratado de Roma (que prevê a criação do tribunal) denunciem a presença dos fugitivos em seus territórios. A medida dá a essas nações amparo legal para efetuar a prisão. Ontem, algumas horas antes de expirar o ultimato dado pelos rebeldes, dois dos últimos bastiões controlados pelas forças leais ao regime ; as cidades de Bani Walid e Sirte ; eram palcos de combates acirrados.No comunicado oficial sobre o alerta, a Interpol ofereceu total apoio aos centros de comando e de coordenação espalhados pelo mundo. O organismo solicitou aos países-membros a tomada de todas as medidas possíveis, observando as legislações nacionais, para ajudar o TPI a localizar e prender Kadafi. ;O alerta vermelho da Interpol reduzirá significativamente a capacidade desses três homens de cruzarem fronteiras internacionais e é uma poderosa ferramenta para ajudar na localização e na prisão deles;, disse o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, por meio de uma nota oficial.
A medida é um primeiro passo para a entidade reconhecer o Conselho Nacional de Transição (CNT) como governo legítimo da Líbia. ;A Interpol vai cooperar com o TPI e com as autoridades do CNT para deter Muamar Kadafi;, acrescentou Noble. Em março, a Interpol emitiu alerta laranja contra Kadafi, seus familiares e membros de seu governo, por meio do qual alertava os países a rastrearem bens ilegais do ditador e de seus cúmplices. O alerta não previa a prisão dos envolvidos, mas tinha o objetivo de ajudar na aplicação das sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Ultimato
Enquanto o ex-homem forte da Líbia continuava ontem foragido, grupos leais a ele em Sirte e em Bani Walid resistiam ao avanço das forças do novo regime líbio a algumas horas antes do fim, hoje, do ultimato dado para a rendição desses bastiões. O comando do governo que começa a se instalar na Líbia deu até hoje para que os últimos redutos ligados a Kadafi se rendam. Caso contrário, eles ameaçam se impor militarmente nessas localidades. O encarregado do CNT nas negociações em Bani Walid, Abdala Kenchil, afirmou à agência de notícias France-Presse que violentos combates foram registrados na cidade, ontem à noite. ;Nossas forças só tentam parar a atividade de quem nos lança ataques com foguetes e dos franco-atiradores;, declarou Kenchil. Já no Vale Vermelho, próximo a Sirte, soldados leais a Kadafi resistiam às forças do novo regime, que tomaram o local na quinta-feira. Segundo a France-Presse, os combatentes do ditador lançaram foguetes e obuses de morteiro e atacaram por terra.
Em Trípoli, o principal dirigente líbio de fato, Mahmud Jibril, fez seu primeiro discurso na capital e alertou que ;a luta pela libertação ainda não está terminada;. Jibril não quis especular sobre o possível paradeiro de Kadafi, mas ponderou que a batalha somente estará concluída após a captura ou a eliminação do ditador.