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Líbia: forças de Kadhafi continuam lutando; China reconhece CNT

Agência France-Presse
postado em 12/09/2011 22:50
As filas do ex-líder líbio Muamar Kadhafi prometeram lutar até a vitória e lançaram surpreendentes ataques em três fronts nesta segunda-feira (12/9), enquanto o governo interino líbio ganhou o reconhecimento da China.

Os contra-ataques ferozes contra a refinaria de Ras Lanuf, próximo à cidade natal de Kadhafi, Sirte, e em Bani Walid, perto de Trípoli, ocorriam enquanto uma autoridade americana afirmava que o Níger estava disposto a prender um dos mais proeminentes filhos de Kadhafi, Saadi, após ele ter cruzado a fronteira.

"Não é possível entregar a Líbia aos colonialistas de novo", e "tudo o que nos resta é a luta até a vitória e a derrota do golpe", disse Kadhafi em um comunicado lido na emissora Arrai Oruba, com sede na Síria.

O paradeiro de Kadhafi é desconhecido desde que ele deixou Trípoli no fim do mês passado, e o novo líder interino líbio, Mustafá Abdul Jalil, teve uma recepção de herói na principal praça da cidade.

Milhares de pessoas comemoraram a vitória contra Kadhafi na Praça dos Mártires, dois dias depois de Abdul Jalil, líder do Comitê Nacional de Transição (CNT), chegar a Trípoli a partir de Benghazi.

A Otan prometeu manter seus bombardeios contra os redutos remanescentes de Kadhafi, que também incluem as cidades de Waddan e Sabha, enquanto continuarem sendo uma ameaça.


A China, que se opôs aos ataques aéreos da Otan iniciados em meados de março, tornou-se o mais novo país a reconhecer o CNT como governo da Líbia, informou a agência estatal Xinhua.

Washington enviou um time de quatro tropas para ajudar seus oficiais a reabrir a embaixada dos EUA em Trípoli.

Mas forças leais a Kadhafi empreenderam um forte ataque contra as linhas inimigas, matando ao menos 12 soldados do CNT em uma incursão a uma refinaria perto de Ras Lanuf, na costa central.

"Até agora, temos uma cifra de 12 mortos nas filas dos revolucionários" que faziam a guarda da refinaria, informou o porta-voz militar, Mohammed Zawawi, à France Presse.

"Um grupo (de kadhafistas) viajando em cinco veículos tentou entrar na refinaria, mas não conseguiu", declarou.

A infraestrutura petroleira na costa do Mediterrâneo entre Sidra e Brega é um campo de batalha importante da revolta de sete meses contra Kadhafi, e territórios entre o leste - majoritariamente controlado por rebeldes - e o oeste - controlado principalmente por kadhafistas - mudaram de mãos diversas vezes.

Mas desde a queda de Trípoli, as forças do CNT avançaram dezenas de quilômetros para oeste rumo a Sirte, que continua nas mãos de Kadhafi, e se moveram para dominar a vital infraestrutura petroleira da qual dependem os planos de reconstrução pós-guerra.

No sudeste de Trípoli, civis dominaram a cidade desértica de Bani Walid após intensos confrontos no domingo entre forças kadhafistas na cidade e tropas do novo regime líbio.

Muitos permaneceram presos na cidade, a 180 km da capital, sem combustível nos veículos, informaram os que conseguiram fugir.

"As famílias estão muito assustadas com essa guerra", disse Mohammed Suleiman ao passar pelo posto de controle com 10 parentes amontoados no banco de trás de sua BMW branca.

A oeste de Sirte, um comandante do CNT disse que suas forças encontraram forte resistência ao avançar rumo à cidade no domingo.

"Nós avançamos ontem para um lugar chamado posto de controle 50", a 50 km de Sirte, informou o comandante Umran al-Awaib.

"Houve uma forte resistência - fomos alvo de foguetes".

Os militares líbios afirmam que pessoas no centro de Sirte iniciaram uma revolta na qual quatro pessoas morreram.

Revolucionários "causaram distúrbios hoje em Sirte... houve quatro mártires", disse o Conselho Militar de Misrata, apesar de a informação não ter sido verificada.

A inesperada ofensiva das filas de Kadhafi ocorreu apesar do voo para o Níger de 32 membros de seu círculo durante os últimos 10 dias.

"Um total de 32 pessoas estão aqui, incluindo um dos filhos (de Kadhafi), Saadi, assim como três generais", afirmou o primeiro-ministro do Níger, Brigi Rafini.

Ele acrescentou que atravessaram a fronteira em quatro grupos separados e que foram aceitos por "razões humanitárias".

As chegadas mais recentes incluem Saadi, o terceiro dos sete filhos de Kadhafi, conhecido por seu estilo de vida ;playboy;, e oito dos mais próximos aliados do ex-líder líbio, informou Rafini.

Mais tarde, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse, no entanto, que o Níger estava se preparando para prender Saadi.

"Nós confirmamos com o governo do Níger que Saadi cruzou a fronteira, de que eles estão a caminho ou já chegaram à capital Niamey e pretendem detê-lo", disse.

Muamar Kadhafi, seu filho mais proeminente, Seif al-Islam e o chefe da inteligência, Abdullah al-Senussi, são todos procurados pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

Mas Rafini declarou que "até onde sabemos, nenhum dos 32 em Níger está sendo procurado com mandado de prisão ou sendo processado pela Justiça internacional".

No front diplomático, a China formalmente reconheceu o CNT como governo da Líbia após semanas de discussões.

"A China respeita a escolha do povo líbio e dá grande importância ao status e ao papel do CNT, e se manteve em contato com o conselho", informou a agência estatal chinesa Xinhua, citando o porta-voz do ministro de Relações Exteriores, Ma Zhaoxu.

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