Agência France-Presse
postado em 15/09/2011 11:34
Túnis - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, em visita à Tunísia nesta quinta-feira (15/9) afirmou "que o Islã e a democracia não são contraditórios", uma mensagem clara a um país que se prepara para eleições no dia 23 de outubro, nas quais os islamitas surgem como favoritos."Islã e democracia não são contraditórios. Um muçulmano pode governar um Estado com muito êxito", declarou Erdogan, líder de um partido conservador islâmico, durante entrevista conjunta com o presidente da Tunísia Béji Caid Essebsi.
"O êxito do processo eleitoral na Tunísia mostrará ao mundo que a democracia e o Islã podem andar juntos", insistiu. O movimento islamita tunisiano, o Ennahda (Renascimento), preocupa os círculos intelectuais e laicos do país.
Uma assembleia constituinte encarregada de redigir uma nova Constituição deve ser eleita no dia 23 de outubro na Tunísia, nove meses depois da queda de Zine El Abidine Ben Ali, derrubado por uma revolta popular sem precedentes.
Os islamitas do Ennahd, movimento proibido e reprimido pelo regime de Ben Ali, surge como um dos grandes favoritos das eleições. Eles se dizem abertamente adeptos do modelo turco, e seu chefe, Rached Ghannuchi, esteve presente na quarta-feira à noite para receber Erdogan no aeroporto de Túnis.
A visita do primeiro-ministro turco à Tunísia nesta quinta-feira prevê encontros com os principais líderes de partidos políticos.
"A Turquia é um peso pesado. Não pode ser inocente a visita de Erdogan a um mês das eleições. Ele transmite uma mensagem dando segurança à opinião pública: não tenham medo do Ennahda", afirmou o analista Fayçal Cherif.
"Ele assume há certo tempo o papel de padrinho dos países árabes. Essa posição é reforçada pela linha adotada pela Turquia em relação a Israel", acrescentou Cherif.
De fato, no encontro com Ca;d Essebsi, Erdogan reiterou seus alertas quanto ao Estado hebreu.
"Israel não pode mais fazer o que quer no Mediterrâneo, se não vocês verão os navios militares turcos neste mar", declarou Erdogan.
"As relações com Israel não se normalizarão até que Israel peça desculpas pelo ataque à flotilha, indenize as famílias dos mártires e retire o bloqueio à Gaza", prosseguiu Erdogan.
Um ataque israelense a um navio turco, que fazia parte de um comboio de ajuda Humanitária à Gaza, custou a vida de nove turcos no dia 31 de maio de 2010. Israel se recusa a pedir desculpas por esta operação.
O primeiro-ministro já esteve no Egito, primeira etapa de sua viagem, e fez muitas críticas a Israel além de afirmar que o reconhecimento de um Estado Palestino é uma obrigação.
Essas novas declarações devem ser bem recebidas na Tunísia, onde a causa palestina é regularmente defendida. Os líderes interinos do país adotaram em julho "um pacto republicano" que inclui a interdição de qualquer normalização das relações com o Estado hebreu.
Após seu encontro com Ca;d Essebsi, Erdogan se reunirá com o presidente interino Fuad Mebazaa e com os ministros das Relações Exteriores e da Defesa tunisianos.
Na visita, um acordo de amizade e cooperação deverá ser assinado para dinamizar as relações comerciais entre os dois países, ligados por um acordo de zona de livre comércio desde 2004. O volume de trocas comerciais entre a Turquia e a Tunísia supera um bilhão de dólares, segundo números oficiais.
Erdogan viaja para a Líbia na sexta-feira, última etapa de sua visita aos países da "Primavera Árabe".