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Rede Haqqani do Paquistão surge como ameaça ao Ocidente

postado em 02/10/2011 08:00


Com a morte do americano-iemenita Anwar Al-Awlaqi, líder operacional da organização Al-Qaeda na Península Arábica, as atenções agora se voltam para o Paquistão. No centro de uma crise política com os Estados Unidos, o país se firma cada vez mais como um celeiro do terrorismo. Lashkar-e-Tayyiba (LeT), Tehrik-i-Taliban Pakistani (TTP), Jamait-ul-Mujahideen (JuM); Com nomes diferentes e uma agenda pautada pelo ódio, ao menos 47 facções extremistas estão envolvidas em atentados que mataram 36 mil pessoas nos últimos 10 anos. Uma delas, no entanto, preocupa em especial a Casa Branca e especialistas: a rede Haqqani, que, apesar de ter tido um de seus principais líderes preso nessa semana (leia na página ao lado), desponta como uma das maiores ameaças ao Ocidente.

;O vórtice da luta ao terrorismo e ao extremismo provavelmente emergirá contra a rede Haqqani em território paquistanês;, afirma ao Correio Magnus Ranstorp, do Colégio de Defesa Nacional Sueca. ;Trata-se de uma interseção entre a Al-Qaeda, o Talibã e a Agência de Inteligência Interserviços do Paquistão (ISI, o serviço secreto);, acrescenta.

No último dia 22, o então chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mike Mullen, acusou Islamabad de espalhar a violência para outras nações. ;Ao escolher o uso do extremismo violento como um instrumento de política, o governo do Paquistão ; e mais especialmente o exército e o ISI ; põem em perigo não apenas a perspectiva de nossa parceria estratégica, mas também a oportunidade do Paquistão de ser uma nação respeitada com influência regional legítima;, disse Mullen, durante audiência no Senado norte-americano. ;Ao exportar a violência, eles têm destruído sua segurança interna e sua posição na região.; Era uma referência clara a um suposto apoio do ISI à rede Haqqani no ataque contra a Embaixada dos EUA, em Cabul, oito dias antes.

Numa demonstração de unidade, partidos paquistaneses do governo e da oposição, além de oficiais das Forças Armadas, se reuniram na quinta-feira e alertaram que ;qualquer violação da soberania e da integridade territorial; não será tolerada. ;Nós rejeitamos as recentes afirmações e alegações sem base;, afirmaram os participantes do encontro. O premiê, Yusuf Raza Gilani, esbravejou contra Washington. ;O jogo de culpa deve acabar, e os interesses nacionais do Paquistão devem ser respeitados.;

Não foi o bastante para calar o presidente dos EUA, Barack Obama, preocupado com as ações da rede Haqqani no Paquistão. ;O testemunho de Mike (Mullen) expressou a frustração sobre o fato de que existem abrigos seguros para a rede Haqqani dentro do Paquistão;, comentou o mandatário anteontem. ;Se há um engajamento ativo com Haqqani ou se eles deixam o grupo operar na impunidade em regiões de fronteira, então eles têm que tomar conta do problema;, acrescentou. Por sua vez, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, insistiu em uma relação ;mais sólida; entre Washington e Islamabad. ;Queremos ver o fim dos santuários e de qualquer outra forma de apoio aos terroristas procedente de dentro do Paquistão;, disse.

;O governo dos EUA nos acusa de termos relações com a rede Haqqani, e isso é injusto;, desabafa ao Correio o paquistanês Syed A., morador de Abbotabad, cidade onde Osama bin Laden foi executado pelas forças americanas. ;Pelo menos 35 mil pessoas morreram no Paquistão devido ao terrorismo. Depois de tudo isso, você acha que ainda temos uma relação com esse povo?;, questiona.

Promoção
O francês Jean-Charles Brisard, especialista em Al-Qaeda, admite que grupos violentos têm ajudado o Paquistão a promover seus interesses no Afeganistão e na Caxemira. Essas facções teriam auxiliado Islamabad a se posicionar na linha de frente da guerra ao terrorismo. O analista acredita na intensificação, por parte dos EUA, da pressão política, diplomática e econômica sobre o Paquistão. ;A intenção é forçá-lo a erradicar resquícios do terror. Ao mesmo tempo, os americanos desenvolveriam suas capacidades de conduzir operações militares em solo paquistanês, o que enfraqueceria o governo do país e os radicais.;

Brisard vê a rede Haqqani como uma ameaça regional. ;Apenas o TTP e o LeT têm a habilidade de planejar atentados contra o Ocidente;, disse. Segundo ele, a rede Haqqani é forte no Afeganistão e no Paquistão, mas carece de tentáculos. Para Imtiaz Gul, diretor do Centro para Pesquisas e Estudos sobre Segurança (em Islamabad), o Paquistão tem feito o que pôode para combater os extremistas. ;Por ser independente, ele não pode agir como seguidor cego dos EUA;, opina, por e-mail. Gul reconhece que elementos do ISI e do Exército simpatizam com militantes islâmicos. ;Há uma relação com a rede Haqqani, mas seria estúpido dizer que o ISI apoiou o atentado em Cabul."

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