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EUA estão 'mais perto do que nunca' da vitória no Afeganistão, diz Obama

Agência France-Presse
postado em 07/10/2011 19:12
Washignton - O presidente americano, Barack Obama, afirmou esta sexta-feira (7/10) que a vitória sobre a rede Al-Qaeda no Afeganistão está mais perto do que nunca, após uma década marcada pelo fracasso do Ocidente em estabilizar o país, ao custo de centenas de bilhões de dólares e dezenas de milhares de vítimas. Obama saudou o "sacrifício" dos soldados americanos e disse que os Estados Unidos porão um fim às operações bélicas no Afeganistão e no Iraque "de forma responsável".

"Há dez anos, em resposta aos atentados de 11 de setembro, nosso país entrou em guerra contra a Al-Qaeda e seus protetores talibãs no Afeganistão", disse Obama em um comunicado, lembrando que o conflito custou a vida de "cerca de 1.800 patriotas" americanos. "Depois de uma década difícil, estamos pondo um fim de forma responsável às guerras de hoje (no Afeganistão e no Iraque), em uma posição de força", afirmou o presidente.

Obama declarou também que os Estados Unidos estão mais perto "do que nunca de vencer a Al-Qaeda e sua rede mortal", após a eliminação de seu líder, Osama bin Laden, por um comando americano no Paquistão, no começo de maio. "Apesar das enormes dificuldades que persistem no Afeganistão, expulsamos os talibãs de seus principais redutos, as forças de segurança afegãs se fortalecem e os afegãos têm novas oportunidades para definir seu futuro", assegurou.

[SAIBAMAIS]Mais cedo, o presidente afegão, Hamid Karzai, havia reconhecido durante entrevista coletiva com a BBC que seu governo e seus aliados da Otan haviam "fracassado" quanto a dar segurança ao seu povo durante estes dez anos. "Devemos procurar dar aos cidadãos afegãos um melhor ambiente de segurança (...), pois neste ponto a comunidade internacional e o governo afegão, sem sombra de dúvida, fracassaram", disse Karzai.

Em 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, a aviação americana começou a bombardear o Afeganistão após a recusa do regime talibã de entregar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Algumas semanas bastaram à coalizão ocidental para depor os talibãs. Mas os Estados Unidos, motores da força da Otan, logo após ocupados com a invasão do Iraque, deixaram que os talibãs, refugiados sobretudo no vizinho Paquistão, se reagrupassem.

Dez anos depois, esta guerra, uma das mais longas da história americana, inclusive mais longa que a ocupação soviética dos anos 1980, foi se transformando em um atoleiro cada vez mais sangrento. A Otan, que tem previsto retirar suas tropas de combate do país até o fim de 2014, continua procurando uma saída honrada para este conflito que, segundo a universidade americana de Brown, deixou 34.000 mortos e no qual só os Estados Unidos gastaram pelo menos 444 bilhões de dólares. Nenhum ato especial estava previsto esta sexta-feira para marcar o aniversário.

As autoridades afegãs anunciaram um reforço das medidas de segurança na capital, Cabul, recentemente alvo de vários ataques que deixaram em evidência a fragilidade do governo, apoiado por 140.000 soldados da Otan.

Esta quinta-feira, em Cabul, 200 manifestantes pediram a saída da Otan e denunciaram as vítimas civis de suas operações, que alimentam o rancor da população e atiçam a insurreição. Na quinta-feira, véspera deste décimo aniversário, o general americano Stanley McChrystal, ex-comandante das forças internacionais no Afeganistão, afirmou que a Otan havia alcançado "um pouco mais da metade de seus objetivos militares", reconhecendo que os Estados Unidos e seus aliados tiveram "um enfoque simplista" do Afeganistão e de sua história.

A retirada ocidental em 2014 abre a possibilidade de um retorno dos talibãs ao poder, perspectiva inquietante para aqueles afegãos que tiraram proveito desta década de abertura, sobretudo os moradores de centros urbanos. "O povo tem acesso a tudo o que quer, o que não era o caso sob (o domínio d)os talibãs", explicou em bom inglês Hafizullah Ahmadi, um tradutor de 33 anos. Mas a população, cansada da violência, também reivindica, antes de mais nada, a paz, que poucos imaginam ser possível sem um acordo com os talibãs, vistos como uma força, ou sem uma retirada ocidental. "Ficaremos contentes quando os americanos partirem. Então, tudo voltará ao normal", disse à AFP Khan Agha, um vendedor ambulante. "Sob os talibãs, a vida era difícil, mas pelo menos tínhamos segurança", acrescentou.

Em setembro, o ex-presidente Burhanuddin Rabbani, encarregado de negociar a paz com os talibãs, foi assassinado em Cabul. Sua morte fez tormou mais distantes as já hipotéticas perspectivas de paz a curto prazo, com os rebeldes que se recusam a negociar com o governo enquanto os soldados estrangeiros não tiverem deixado o país.

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