Renata Tranches
postado em 13/10/2011 08:23
Um dia após os Estados Unidos acusarem o governo iraniano de envolvimento em um plano terrorista para atacar representações diplomáticas em Washington, declarações exaltadas de ambos os lados elevaram a tensão entre os dois países ontem. Enquanto a Casa Branca dava como certo o envolvimento de Teerã no complô, que previa o assassinato do embaixador saudita nos EUA, o Irã revidava com promessas de contra-ataque a qualquer ação de retaliação. Para a Arábia Saudita, as provas do plano eram ;contundentes;, mas a União Europeia preferiu cautela e defendeu punição, caso a conspiração seja ;confirmada;. Países do Golfo Pérsico alertaram que a crise pode abalar a relação iraniana com a região e mergulhá-la na instabilidade.
As condenações mais enérgicas partiram do vice-presidente norte-americano, Joe Biden. Em entrevista ao programa Good Morning America, da rede de tevê ABC, ele afirmou tratar-se ;de um ato atroz, pelo qual os iranianos terão de prestar contas;. Biden garantiu que seu país deverá responder com novas sanções contra Teerã, ;mas outras possibilidades estão sobre a mesa;, dando a entender que ações militares não foram totalmente descartadas.
O suposto complô foi revelado pelo procurador-geral Eric Holder, na terça-feira. Segundo a denúncia, dois iranianos que teriam ligação com a Força Quds, uma divisão da Guarda Revolucionária Iraniana ; unidade militar de elite ; pretendiam atacar as embaixadas de Israel e da Arábia Saudita, e assassinar o representante de Riad em Washington. No México, os acusados teriam entrado em contato com um agente do DEA, órgão de combate às drogas, que havia se infiltrado em uma organização criminosa. Os iranianos teriam proposto a ele realizar os atentados, em troca de US$ 1,5 milhão. O DEA e o FBI (polícia federal dos EUA) alegaram ter interceptado ligações telefônicas e rastreado uma transferência bancária, por meio da qual seria feito o adiantamento da recompensa.
Para o deputado republicano Connie Mack, o plano ;mostra mais uma vez que o Irã estabeleceu profundos laços diplomáticos e militares encobertos na América Latina;. ;Agora, e nfrentamos uma diferente insurgência criminosa, talvez terrorista, no México, que vai ganhar força se não for combatida;, disse o parlamentar, que é chefe da Subcomissão para a América Latina no Capitólio.
O Irã voltou a negar as acusações. Teerã argumentou que elas fazem parte de um golpe de Washington para dividir os países muçulmanos e encerrar o isolamento de Israel. Segundo o regime do presidente Mahmud Ahmadinejad, a estratégia buscaria desviar a atenção dos americanos de seus problemas internos. As autoridades iranianas alertam os EUA sobre qualquer tentativa de ;enfrentamento;. ;Não buscamos o confronto, mas se (os EUA) quiserem, as consequências serão mais graves para eles do que para o Irã;, disse o chanceler, Ali Akbar Salehi. A Guarda Revolucionária rechaçou envolvimento com o caso. A nação persa, que não mantém relações com Washington desde 1980, decidiu convocar o embaixador na Suíça, que representa os interesses americanos no país.
Golfo Pérsico
A crise já ameaça a estabilidade no Golfo, uma das regiões mais importantes para o abastecimento mundial de petróleo e sede de várias bases militares norte-americanas. Por meio de um comunicado, o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo, Abdulattif Al-Zayani, condenou o plano atribuído ao Irã e afirmou que o complô poderá prejudicar as relações com o país. Al-Zayahi instou Teerã a ;reconstruir; seus laços com as nações do Golfo ; Barein, Kuweit, Omã, Catar e Emirados Árabes Unidos, além da Arábia Saudita, para quem as provas da conspiração são ;contundentes;. ;Alguém no Irã terá que pagar, independentemente do nível a que pertença;, ameaçou o príncipe saudita Turki Al-Faisal.
Com um tom um pouco mais cauteloso, mas não menos incisivo, a União Europeia advertiu que caso o plano seja confirmado, o Irã poderá sofrer ;graves consequências;. ;Se forem confirmados esses fatos, isso constituirá uma grave violação das leis internacionais, o que implicaria graves consequências;, ressaltou Maja Kocijancic, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
O bloco europeu foi o único a alertar para uma confirmação do plano. Apesar das alegações das autoridades americanas de que há provas suficientes, não estava claro se os acusados ; Manssor Arbabsiar, preso em setembro, e Gholam Shakuri, foragido ; teriam cumprido ordens de Teerã.
Segundo o diretor do Centro de Estudos Internacionais do Massachusetts Institute of Technology (MIT), John Tirman, não foi devidamente esclarecido quem são realmente esses homens e qual o principal objetivo deles. ;É preciso cautela para não se tomarem decisões precipitadas, já que a Guarda Revolucionária ou outros serviços de inteligência iraniano são, comumente e erroneamente, identificados como organizações terroristas;, afirmou, em entrevista ao Correio.
Carta a Ban Ki-moon
Em uma das reações iranianas às acusações dos EUA de envolvimento em plano terrorista, o representante permanente do Irã nas Nações Unidas, Mohammad Khazaei, enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na qual ele protesta contra o episódio. ;Expresso minha repugnância às alegações feitas pelas autoridades americanas;, afirmava a carta. Khazaei escreveu que cada país pode acusar outro com esse tipo de histórias, mas tal método poderia ser muito perigoso para a relação entre eles. No documento, o embaixador afirmou que o Irã sempre condenou todas as formas de terrorismo e que foi vítima dele no caso do ;assassinato de cientistas nucleares iranianos nos últimos dois anos pelo regime sionista apoiado pelo EUA;.