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Governo boliviano está preocupado com marcha de indígenas rumo a La Paz

Agência France-Presse
postado em 13/10/2011 18:28
La Paz - Um protesto de indígenas se aproxima de La Paz após uma marcha de dois meses contra o governo, às vésperas de uma eleição de autoridades judiciais crucial para o presidente Evo Morales, para a qual a oposição pediu que se anule o voto. Entre 1.500 e 2.000 indígenas amazônicos marcham desde 15 de agosto rumo a La Paz - aonde devem chegar na próxima semana - para pedir pessoalmente ao presidente Morales que desista de construir uma estrada, financiada pelo Brasil, na reserva natural de Tipnis, no centro do país.

Depois de percorrerem mais de 500 km, os indígenas descansam na pequena cidade de Yolosa, a 90 km de La Paz e 1.300 metros acima do nível do mar. "Vamos chegar a La Paz e vamos pedir para dialogar com o presidente, porque a demanda da estrada é apenas uma de nossa lista de 16 pontos", disse à AFP em Yoloka um dos principais líderes dos manifestantes, Fernando Vargas.

Os indígenas também pedem para acelerar um processo de intitulação de terras indígenas, que sejam consultados sobre temas legais de seu interesse, e que se suspenda a prospecção petroleira na região de Aguarague, no sul do país, entre os assuntos mais importantes.

O governismo deu até agora poucos sinais de que tratará dos temas exigidos pelos indígenas, e o presidente Evo Morales deu a entender nesta quinta-feira, durante um ato público, que há demandas que não podem ser atendidas. "Todos têm direito a reivindicar, mas quando me pedem, por exemplo, a paralisação total do trabalho de hidrocarbonetos na zona do Chaco (Aguarague), isso significa que o povo boliviano ficará sem IDH (imposto sobre hidrocarbonetos)", disse Morales.

O governo tentou desarticular essa marcha em 25 de setembro, enviando a polícia, que realizou uma forte repressão, o que gerou críticas de vários setores. A situação social pode "sofrer uma convulsão" com a chegada dos manifestantes a La Paz, porque estes vão ser recebidos como heróis e ainda é preciso ver como serão tratados pelo governo", afirmou à AFP o sociólogo e professor universitário Carlos Cordero. Os manifestantes esperam chegar à sede do governo entre segunda e quarta-feira da próxima semana, mas ainda devem passar por um trecho 4.600 metros acima do nível do mar, pela parte leste da Cordilheira dos Andes, o trecho mais complicado.

Cordero considerou que é provável que o governo, que tentou em mais de seis ocasiões dialogar, sem sucesso, com os nativos, não queira atender a sua principal reclamação, "porque há muita teimosia em relação à construção da estrada" através do Tipnis. "Não sei quanto tempo eles vão aguentar ficar em La Paz sem ter soluções para suas demandas e, depois de um tempo, a situação pode se complicar", indicou Cordero.

O protesto dos indígenas ofuscou o processo eleitoral para eleger, no domingo, por voto popular, novas autoridades do Poder Judiciário, no qual os candidatos - pré-selecionados pelo Congresso de maioria governista - estão impedidos de fazer campanha e a imprensa também não pode entrevistá-los. A oposição de direita, centro e centro-esquerda considera que nomear as principais autoridades judiciais por voto popular permitirá ao governo controlar a Justiça e, por isso, convocaram a população a anular o voto no domingo. Nesse dia, serão eleitos 56 ministros para Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Constitucional, Tribunal Agroambiental, e para o Conselho da Magistratura (disciplinar), de um total de 122 candidatos.

Votar em branco "é dizer ao presidente Morales que rejeitamos o fato de a Justiça continuar manipulando, evitar que o governo utilize a Justiça para colocar na prisão todos os opositores", afirmou o deputado de centro-direita Jaime Navarro. A oposição está preocupada com o fato de muitos dos candidatos terem laços evidentes com o governo, como funcionários públicos ou como assessores de sindicatos de camponeses leais ao presidente Morales. "Com essas eleições, acabou o rateio dos partidos neoliberais, que se distribuíam na Justiça. Agora o povo vai escolher", disse o vice-presidente Álvaro García, respondendo às críticas.

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