postado em 14/10/2011 09:26
Durante 40 anos, os líbios foram obrigados a se curvar à ditadura de Muamar Kadafi. Torturas, prisões arbitrárias e outras violações dos direitos humanos eram práticas comuns em seu governo. O regime se esfacelou, o Conselho Nacional de Transição (CNT) assumiu o poder informalmente e quase nada parece ter mudado.
Após visitar 11 centros de detenção no oeste da Líbia e colher os depoimentos de 300 prisioneiros, entre 18 de agosto e 21 de setembro, a organização não governamental Anistia Internacional (AI) elaborou o relatório Detention abuses staining the new Libya (Abusos de detenção maculam a nova Líbia). De autoria da egípcia Diana ElTahawy ; pesquisadora da AI sobre o norte da África ;, o documento de 27 páginas aborda o tratamento a 2,5 mil pessoas detidas pelo CNT, sob a acusação de apoiar o ex-ditador. Entre elas, estão entre 800 e 1.250 supostos mercenários oriundos de países da África Subsaariana. ;Estamos preocupados com o fato de a milícia armada de oposição a Kadafi ter realizado milhares de prisões arbitrárias. Os indivíduos estão detidos em instalações não supervisionadas pelo Ministério da Justiça;, afirmou Diana ao Correio, por e-mail.
Segundo a autora do relatório, vários prisioneiros se queixaram de tortura. ;Os métodos frequentemente relatados a nós incluem pancadas por todo o corpo com cintos, varetas, coronhas de fuzis e mangueiras de borracha; socos; chutes e ameaças de morte;, contou a especialista. ;Antes das torturas, os detidos eram obrigados a deitar no chão, ajoelhar-se ou ficar de frente para a parede;, acrescentou. Pelo menos dois prisioneiros relataram aos representantes da Anistia Internacional que os guardas apagaram cigarros na pele deles. ;Parece-me que eles têm sido abusados para ;confessar; o crime;, disse. A vulnerabilidade à tortura é maior nos primeiros dias após a captura, especialmente antes de os suspeitos serem transferidos para os centros de detenção formais.
Diana ElTahawy cobrou iniciativa do CNT para pôr fim aos abusos, ;antes que eles se tornem comuns na nova Líbia;. ;Eles precisam enviar uma clara mensagem de que tais comportamentos não serão tolerados, como eram no antigo regime;, defendeu. Ela revela que as entrevistas com os detentos foram feitas sem a presença dos guardas. ;Os presos nos mostraram cicatrizes consistentes com os depoimentos. Dois guardas admitiram que batem nos detentos para extrair deles a confissão rápida;, emendou. A Anistia Internacional enviou um memorando ao CNT, no qual expunha suas preocupações com as violações. Em setembro, representantes da ONG também tiveram uma reunião com as autoridades do regime pós-Kadafi.
Batalha por Sirte
Sob fogo cerrado, as forças do CNT se viram ontem obrigadas a retroceder dois quilômetros em Sirte, 360km a leste de Trípoli. O novo governo considera crucial a queda da cidade natal de Kadafi, para proclamar a ;libertação total; do país e reiniciar as negociações para a transição política. Em uma semana, os combates na região mataram quase 100 pessoas. Abdelkarim Bizama, conselheiro do chefe do CNT, Mustafá Abdel Jalik, desmentiu ontem a captura de Mutassim Kadafi, filho de Muamar.