Agência France-Presse
postado em 19/10/2011 12:12
DHARAMSALA - O primeiro-ministro tibetano, Lobsang Sangay, saudou nesta quarta-feira (19) a coragem das nove pessoas que se imolaram (morrer em sacrifício) recentemente na China pela "causa do Tibete". Pequim reagiu e acusou o "grupo do Dalai Lama" de "terrorismo disfarçado".O líder, exilado na cidade indiana de Dharamsala junto de seu governo, declarou que um dia de orações foi organizado "em solidariedade aos tibetanos que sacrificaram suas vidas pela causa do Tibete, especialmente os imolados, suas famílias e os que sofrem com a repressão". "Nós homenageamos a coragem e o espírito indomável dessas pessoas", acrescentou.
Uma nona imolação, pela primeira vez a de uma monja, ocorreu na segunda-feira em uma região de população tibetana no sudoeste da China. O movimento de contestação dos monges dispostos a morrer ganha cada vez mais força. A monja tibetana morreu em seu convento próximo de Aba. Nesta província, já aconteceram oito imolações, além de outras tentativas, por parte de monges ou ex-monges budistas desde março.
O Dali Lama, por sua vez, iniciou uma greve de fome um dia antes de abrir a sessão de orações com centenas de monges, freiras e outros tibetanos no principal templo de Dharamsala.
Sangay, eleito no fim de abril, denunciou o colonialismo da China e "a destruição sistemática da cultura, religião, língua e ambientes tibetanos únicos". Ele também criticou as políticas repressivas de Pequim.
Para o ministério chinês das Relações Exteriores, "os casos de imolação são contrários a moral e a consciência e devem ser condenados", disse a porta-voz Jiang Yu durante coletiva de imprensa. "Eles ampliam o probelma para incentivar mais pessoas a seguirem o exemplo", acrescentou. "As atividades separatistas que custam vidas humanas são de violência e de um terrorismo disfarçado."
As orações realizadas pelo Dalai Lama, chefe espiritual dos tibetanos e recentemente afastado da vida política, foram deliberadamente organizadas nesta quarta-feira, de acordo com o movimento cultural chamado "Lhakar", que já se espalhou por todo o Tibete. Toda quarta-feira, tibetanos escolheram usar roupas tradicionais, falar tibetano, comer em restaurantes tibetanos e fazer o seu melhor para preservar a cultura, afirmou Sangay.
Em Nova Delhi, milhares de tibetanos exilados desfilaram hoje em sinal de solidariedade. Carregavam cartazes e bandeiras, partiram do memorial ao pai da independência da Índia, Mahatma Gandhi, e foram até o centro da capital.
A Índia acolheu o Dalai Lama depois de sua fuga do Tibete após a fracassada revolta anti-chinesa em 1959. Sua presença e a tolerância da Índia quanto as manifestações tibetanas são uma constante fonte de atrito com a China. Pequim acusa o Dala; Lama de ser um perigoso separatista.