postado em 20/10/2011 08:13
Chegaram ontem a La Paz, sob aclamação popular, os indígenas bolivianos que marcharam 600km, ao longo de 65 dias, para pressionar o presidente Evo Morales ; o primeiro indígena a governar o país. O governo, que havia recebido duras críticas por ter reprimido violentamente a caminhada, ordenou a retirada de forças policiais da região e se dispôs a dialogar com os líderes do movimento, a fim de evitar um conflito e preservar uma das bases de apoio de Morales. O campo governista acusou golpe do último fim de semana, com um índice de votos brancos e nulos acima de 60% em uma eleição inédita para representantes do Poder Judiciário.Depois de percorrer um trajeto acidentado, incluindo a subida para o altiplano, a mais de 4 mil metros de altitude e com temperaturas baixas ao relento, cerca de 2 mil indígenas foram recebidos na capital por uma multidão, incluindo estudantes e sindicalistas que ofereceram comida e roupa aos manifestantes. O apoio da população incentivou os líderes do movimento a acreditar em um diálogo com o governo. ;Esperamos que Morales tenha pensado e tenha a intenção de atender às nossas demandas;, disse um deles, Fernando Vargas, poucos quilômetros antes de entrar na capital. Segundo ele, para que haja acordo, não basta que o governo suspenda a construção da estrada, obra a cargo de uma construtora brasileira e financiada pelo BNDES. O manifesto do movimento inclui 16 outros pedidos.
Até ontem, o presidente boliviano tinha dado poucos sinais de que discutiria os temas exigidos pelos indígenas. Um comunicado lido pelo ministro de Governo, Wilfredo Chávez, propôs um encontro com os líderes do movimento e garantiu que, dessa vez, ;todos os direitos; serão preservados. ;O palácio está aberto para recebê-los;, afirmou o porta-voz. Entretanto, antes ainda de apontar na capital, o presidente da Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia já dava sinais de que não seria fácil suspender os movimentos de protesto. ;A marcha não deixará a sede do governo até que a lei desenvolvida pelos índios seja promulgada;, garantiu Adolfo Chávez, fazendo menção ao texto que veta a obra na reserva do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure.