Ao fundo, a reportagem escuta o som de buzinas e gritos. Hisham Bumedian, um engenheiro de computação de 36 anos, caminha da Praça dos Mártires até sua casa, em Trípoli, enquanto conversa com o Correio, por telefone. ;É difícil descrever o que eu sinto. Eu estou feliz, mas gostaria de ver Kadafi vivo, atrás das grades;, afirmou. Segundo ele, o clima na capital da Líbia é de carnaval. ;As pessoas gritam ;Kadafi nunca mais; e ;Nunca mais o medo;, além de ;Allahu Akbar;. Todos estamos felizes. Ouço gritos e músicas da revolução. Alguns líbios distribuem balas. Antes, quando saíamos com uma câmera nas mãos, corríamos o risco de ser baleados. Agora, muitos pedem que tiremos fotos;, contou.
Bumedian ainda se recorda de quando os homens de Kadafi invadiram sua casa, em junho passado. ;Eles reviraram tudo e levaram meu irmão. Tudo o que eu sentia era humilhação e desesperança;, relata. Apesar da alegria, o engenheiro não se ilude. ;A morte do ditador é apenas um capítulo da história do meu país. Os próximos dias serão duros;, admite, ao prever uma difícil reconstrução. ;Nessa revolução, a coisa mais fácil foi remover Kadafi;, emendou.
[SAIBAMAIS]Em Misrata, 189km a sudeste da capital, o médico Ayman Abushahma não disfarçava a felicidade. ;Em 42 anos, Kadafi disseminou o sofrimento. Agora, temos nossa vingança;, disse, por telefone. Ele se lembra de quando a cidade começou a ser alvo dos foguetes Grad e dos morteiros disparados pelas forças leais ao ditador. ;Nossos mártires da revolução e meu sobrinho morreram;, conta.
;Inacreditável;
Na mesma cidade, o engenheiro Ahmed Al-Afitori, de 47 anos, afirmou à reportagem que o corpo de Kadafi era mantido ontem dentro de uma mesquita no chamado Mercado Tunisiano ; uma área transformada em base do Conselho Nacional de Transição (CNT), a 10km do centro. Ele considerou a situação ;uma experiência inacreditável;. ;Durante 42 anos, vivemos sob essa ditadura. Agora, estamos livres. Ele não vai mais existir;, comemorou. De acordo com Ahmed, Misrata permaneceu tranquila durante quase todo o dia. ;As pessoas estão à frente das tevês, à espera de notícias. Agora, elas começam a sair às ruas, clamando que a Líbia está livre. Você não pode imaginar como elas estão felizes;, contou.
Ahmed crê que o futuro da Líbia é muito promissor. ;Tenho certeza de que ele será muito democrático; as coisas vão acontecer suavemente;, disse, em meio ao barulho de tiros de celebração. Nos últimos oito meses, ele enterrou um tio e três primos ; um deles morreu na terça-feira, no campo de batalha. ;As pessoas cujos familiares foram mortos durante a revolução estão felizes, porque elas fazem parte da história do país;, acrescentou.
Ouça os depoimentos de líbios de Trípoli e de Misrata:
Ahmed Al-Afitori, engenheiro de Misrata
Guma El-Gamaty, representante do Conselho Nacional de Transição (CNT) no Reino Unido