Agência France-Presse
postado em 21/10/2011 15:25
BRUXELAS - A Otan pode ter cumprido sua missão na Líbia após a morte de Muammar Kadhafi e a queda do último reduto das forças leais ao ex-ditador, mas a partir de agora enfrenta o desafio de definir o futuro da Aliança Atlântica.O Conselho de embaixadores dos 28 países se reunirá nesta sexta-feira às 15h00 (13h00 GMT) para fixar a data do fim da operação iniciada no dia 31 de março, disse uma fonte. "Uma grande vitória e um triunfo da coragem política do (primeiro-ministro britânico David) Cameron e (o presidente francês Nicolas) Sarkozy", opinou Nick Witney, do instituto de investigações do Conselho Europeu das Relações Exteriores. "A Otan iniciou o mandato da ONU ao salvar Benghazi, e terminou com a captura de Kadhafi", afirmou à AFP.
Segundo fontes, Kadhafi tentava fugir de Sirte em um comboio de veículos quando foi alvo de um ataque da Otan. Contudo, a Aliança Atlântica destaca que o objetivo da missão nunca foi a captura e nem a morte do líder deposto. Na quinta-feira, a organização indicou que não sabia da presença de Kadhafi dentro do comboio bombardeado.
A Otan assumiu o controle das operações internacionais na Líbia após uma autorização da ONU para proteger a população civil da repressão do regime. Em um primeiro momento lançou uma operação de três meses, estendida por mais 90 dias, que voltou a ser prorrogada em setembro.
Após a morte de Kadhafi, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, celebrou "o fim do terror" em um comunicado no qual assegurou que a missão da Otan terminará em coordenação com a ONU e com as novas autoridades líbias do Conselho Nacional de Transição (CNT).
Na Líbia, os insurgentes do CNT devem proclamar nesta sexta-feira ou no sábado a "libertação" total do país depois da morte do ex-líder em Sirte, seu último reduto, colocando fim ao conflito que durou oito meses e que custou a vida de mais de 30.000 pessoas.
Teríamos "milhares de mortos a mais" se tivéssemos fracassado, afirmou o ministro da Defesa Ignazio La Russa da Itália, um dos oito países que participou dos 8.000 ataques lançados pela Otan.
A operação não esteve isenta de problemas. Em julho, o secretário da Defesa americano, Robert Gates, criticou a falta de vontade política e de recursos militares, por parte de alguns países aliados da missão.
Os Estados Unidos decidiram não comandar a intervenção militar, o que obrigou Paris e Londres a assumirem as rédeas com o respaldo de apenas alguns países. Sem a liderança do Reino Unido e da França, a operação poderia fracassar. Por isso, muitos analistas questionam a viabilidade da aliança e acreditam que os dois países são merecedores de todo o crédito. "Eu não estou seguro da viabilidade da Otan", disse o analista George Joffe da Universidade de Cambridge e do Instituto Político Global.
"Se não são os americanos, então são os europeus que devem assumir a liderança, mas se os europeus não são efetivos, qual é o propósito da Aliança?", questionou. "Este é o verdadeiro desafio agora, como se organizar para a organização ser efetiva e para que sua existência tenha sentido?", acrescentou.
Para outros especialistas, a Otan extrapolou suas funções na Líbia. "Os aviões da Otan que perseguiram e bombardearam o comboio de Kadhafi foram muito além da obrigação de proteger os civis", disse à AFP Mariano Aguirre, diretor do Centro de Paz Noref, em Oslo.