postado em 23/10/2011 08:00
Apesar de os votos de 29 milhões de argentinos que vão às urnas na eleição presidencial de hoje só começarem a ser contados a partir das 18h (19h em Brasília), dificilmente o resultado do pleito trará alguma novidade. Todas as pesquisas eleitorais apontam uma vitória da atual presidente, Cristina Fernández de Kirchner, com uma ampla vantagem, o que confere à votação um tom quase plebiscitário. A oposição fragmentada, a ampla aprovação popular e a consolidação econômica são trunfos de Cristina para garantir hoje mais quatro anos no comando da segunda maior economia da América do Sul. Além da Presidência, parte do Congresso será renovado e nove províncias escolherão seus governadores. Além dos méritos pessoais em relação ao seu governo, a tranquila reeleição de CFK ; como também é conhecida a advogada de 58 anos que comanda a Argentina desde 2007 ; deve ser impulsionada pela morte do marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, vítima de uma parada cardiorrespiratória em 2010. Um ano depois da morte do companheiro, que a indicou como candidata à Presidência por estar impedido de cumprir um terceiro mandato, a líder argentina ainda guarda luto. Em discursos na tevê, são comuns as cenas em que ela cita o marido, com a voz embargada. ;À noite, é a mulher que chora por seu marido. De dia, é a presidente;, resume Estela de Carlotto, presidente da organização não governamental Avós da Praça de Maio.
Outro aspecto favorável a Cristina é a fragilidade do sistema eleitoral argentino, que favorece os candidatos de situação. Diferentemente do Brasil, a Argentina não possui uma justiça eleitoral independente. A Direção Nacional Eleitoral, responsável pela organização do pleito, é subordinada ao Ministério do Interior. Não existe uma fiscalização rígida em relação à propaganda eleitoral antecipada ou ao uso da máquina administrativa na campanha. Ao longo do processo eleitoral, era comum ver propagandas pró-Cristina nos prédios públicos, como a Casa Rosada. Segundo a lei local, são vetados eventos de campanha sete dias antes do pleito. Mesmo assim, a atual presidente teve na última semana uma agenda cheia. Na última segunda-feira, por exemplo, durante o aniversário de 60 anos da TV argentina, ela pouco falou sobre a telinha. ;A responsabilidade que nós temos é a de criar um projeto que contenha os 40 milhões de argentinos;, disse, em tom de campanha.
Adversidades
Contra a presidente, que deve garantir para os Kirchner um ciclo de 16 anos no poder, lutam poucas forças. A oposição, fragmentada, apresentou seis candidatos à Presidência: nenhum com reais chances de desafiar o clã de Cristina. Prova disso foram as eleições primárias de agosto. O segundo colocado, Ricardo Alfonsín, alcançou apenas 12,2% dos votos, 38 pontos percentuais a menos que Cristina, que conquistou 50,24% dos eleitores. Em um vídeo divulgado na sexta-feira, o candidato já reconhecia a derrota. ;Possivelmente, a senhora vai ganhar as próximas eleições. Mas, com todo o respeito, sinto necessidade de lhe dizer algo: não acredito em nada do que diz;, afirmou.
A oposição se foca agora na tentativa de garantir mais cadeiras no Congresso, para barrar os projetos da presidente. ;Eu tenho os braços elevados, faço tudo para lutar, e domingo eu quero ser segundo;, pediu, no último dia de campanha, Alberto Rodríguez Saá, que nas prévias teve 8,17%.
38
Total de pontos percentuais que separaram Cristina Kirchner do segundo colocado, Ricardo Alfonsín, nas primárias de agosto.