postado em 24/10/2011 08:00
;Declaração de liberdade. Ergam suas cabeças. Vocês são livres;, proclamou o vice-presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Abdul Hafez Ghoga, para uma praça central ocupada por milhares de pessoas em Benghazi. ;O povo líbio confirma seu respeito às leis internacionais, em particular os vizinhos da Líbia. Iniciamos uma nova fase, que exige mais responsabilidade da parte de todos. Vida longa à Revolução. Vida longa à Líbia;, acrescentou. Com a bandeira verde, vermelha e negra em punho, a população de Benghazi celebrou durante todo o dia. Mustafa Abdul Jalil, presidente do CNT, declarou a dezenas de milhares de pessoas que a Líbia está livre e iniciou a cerimônia de comemoração da queda de Muamar Kadafi na segunda maior cidade do país. Durante a cerimônia, Jalil deu as primeiras diretrizes do que será a nova Líbia ao informar a adoção da sharia (lei islâmica).
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu que ocorra ;um processo de reconciliação nacional; para que o país se transforme em uma nação segura e democrática. ;Em nome do povo americano, felicito o povo da Líbia neste dia histórico de proclamação da libertação. Esperamos trabalhar com o CNT e com o governo de transição quando forem preparar as primeiras eleições livres e justas;, afirmou Obama.
A autopsia do corpo de Kadafi foi feita ontem e o patologista-chefe da Líbia, Othman al-Zintani, afirmou que um tiro na cabeça matou o ditador. O anúncio foi feito horas antes da declaração da libertação. As comemorações ofuscaram os numerosos pedidos de investigação sobre a suposta execução do ex-governante líbio.
Desde quinta-feira, dia 20, o corpo de Kadafi ficou exposto em um frigorífico do mercado de Misrata e atraiu multidões com disposição mórbida de ver o ex-líder morto. Segundo o CNT, o cadáver do ditador será entregue à família, que decidirá sobre o local e a forma do enterro.
Novos rumos
Durante a cerimônia de libertação, Abdul Jalil anunciou novos rumos para o país. Em meados de setembro, ele já havia afirmado que o islã seria a principal fonte de legislação e rejeitou qualquer ;ideologia extremista;. Ontem, citou como exemplo a lei sobre o divórcio e o casamento. Kadafi proibia a poligamia e autorizava o divórcio. ;A lei sobre o divórcio e o casamento é contrária à sharia e não está mais em vigor;, avisou o presidente do CNT. Ele também noticiou a abertura de bancos islâmicos (que não cobram juros). ;Há boas intenções por trás da regulação da lei sobre os bancos. Tentaremos em particular estabelecer bancos islâmicos que proibirão a usura no futuro, de acordo com a tradição islâmica;, indicou.
Até ontem, o CNT aguardava a tomada de Sirte, último reduto pró-Kadafi, para declarar a libertação total do país e dar início às negociações para a formação do governo de transição. Nos próximos oito meses, será organizada uma Assembleia Nacional que criará um comitê encarregado de redigir uma nova Constituição. As eleições deverão ocorrer dentro de um ano. As múltiplas disputas dentro do CNT podem complicar a formação do novo governo. No grupo convivem liberais e islamitas, com tensões regionais, rivalidades tribais, ambições individuais e pelo controle do petróleo.
Iniciamos uma nova fase, que exige mais responsabilidade da parte de todos. Vida longa à revolução. Vida longa à Líbia;
Abdul Hafez Ghoga, vice-presidente do CNT