postado em 29/10/2011 13:13
Assunção ; O Brasil e o Paraguai, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), estão trabalhando na elaboração de um programa que visa a combater o crime organizado, a lavagem de dinheiro e a corrupção.Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador brasileiro no Paraguai, Eduardo dos Santos, disse que uma missão da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), formada por representantes de vários órgãos brasileiros, como o Ministério Público, a Polícia Federal, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a Controladoria-Geral da União (CGU), esteve com autoridades paraguaias para montar um esboço do Programa Nacional Integrado.
O embaixador brasileiro também falou sobre as ações conjuntas de segurança que o Brasil e o Paraguai desenvolvem na fronteira.
A íntegra da entrevista é a seguinte:
Agência Brasil: Que ações estão sendo adotadas pelo Brasil e o Paraguai no combate ao crime organizado?
Eduardo dos Santos: Uma atuação policial mais intensa, com uso de tecnologia, como o laboratório de criminalística que estamos oferecendo para que o Paraguai compartilhe dessa experiência. Na semana que passou esteve aqui uma missão da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), integrada por representantes de vários órgãos brasileiros, como o Ministério Público, a Polícia Federal, o Coaf e a Controladoria-Geral da União, para fazer com o Paraguai um esboço de um programa, chamado Programa Nacional Integrado, destinado a fortalecer as instituições no Paraguai. O programa será importante no combate ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e ao fortalecimento da Justiça. O programa é feito com apoio das Nações Unidas. Portanto, é um órgão trilateral, Brasil, Paraguai e Nações Unidas, focado nessa questão do fortalecimento da Justiça, do combate à corrupção e à lavagem de dinheiro e contra o tráfico de drogas. O governo do Paraguai está dando muita importância a isso.
ABr: Haverá transferência de tecnologia, de pessoal?
Eduardo dos Santos: [O programa] envolve, sobretudo, treinamento, capacitação, cursos de treinamento. Isso tudo está previsto no programa. É uma iniciativa concreta que estamos trabalhando e mostra um pouco essa agenda extremamente rica com o Paraguai, que envolve, não só temas políticos, mas também temas sociais, culturais, de cooperação técnica e em termos de infraestrutura, que é muito importante. Já temos com o Paraguai a obra de Itaipu, a ponte sobre o Rio Paraná, a Ponte da Amizade. Existe o projeto da segunda ponte sobre o Rio Paraná. Existe também o projeto do corredor ferroviário bioceânico [Atlântico-Pacífico], que vai passar pelo Paraguai, que ainda está sendo estudado. Isso mostra que a nossa relação é extremamente intensa e prioritária.
ABr: Quanto à questão da segurança na fronteira, assunto que envolve o interesse do Brasil e do Paraguai, o que poderá ser feito entre os dois países?
Eduardo dos Santos: O combate ao crime organizado é uma prioridade tanto para o governo brasileiro quanto para o paraguaio. A presidenta Dilma [Rousseff] anunciou, há pouco tempo, uma política de proteção das fronteiras. Um programa que envolve coordenação e ação conjugada de vários órgãos tanto federais como estaduais ; Polícia Federal, Forças Armadas, polícias Militar e Civil. Há pouco tempo foi realizada uma importante operação aqui na fronteira, não só com o Paraguai, mas com a Argentina e o Uruguai. Essa cooperação já existe, pode ser aperfeiçoada e ampliada, como é o nosso desejo. Dou um exemplo: a Polícia Federal coopera com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, vinculada à Presidência da República, diretamente, em um programa de erradicação de cultivo de maconha. O Paraguai é uma área de grande produção de maconha. E, para esse programa, a Polícia Federal presta apoio logístico e de inteligência.
ABr: Há algum efetivo da Polícia Federal atualmente no Paraguai?
Eduardo dos Santos: A Embaixada do Brasil tem um adido da Polícia Federal que trabalha com autoridades do Ministério do Interior do Paraguai, da Polícia Nacional e da Secretaria Nacional Antidrogas, apoiando programas de cooperação com esses órgãos, sempre em contato com a Polícia Federal brasileira. A cooperação é muito fluida e intensa, muito estreita, sobretudo na região de fronteira. Veja o exemplo recente do Polegar [traficante Alexander Mendes da Silva, chefe do tráfico de drogas no Morro da Mangueira, no Rio], que foi preso pelas autoridades do Paraguai, em Pedro Juan Caballero. Feitas as investigações, ele foi extraditado, e hoje está preso no Brasil. Esse foi um resultado muito positivo dessa política.
ABr: O senhor acha que esse tipo de ação vai se intensificar? Isso pode mudar a atual imagem de insegurança na fronteira?
Eduardo dos Santos: Sem dúvida, esse resultado já é uma mostra de que estamos obtendo resultados importantes, relevantes, como foi essa prisão. Nossa cooperação tem procurado se voltar para a troca de informações, o uso de tecnologia. Uma das ideias é o Brasil compartilhar com o Paraguai a tecnologia dos aviões não tripulados, que podem ajudar no combate ao crime organizado. Nós podemos fornecer ao Paraguai os dados que o avião detecta.