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Líbios se preocupam com o que fazer da liberdade recém-adquirida

postado em 31/10/2011 08:01
Garota empunha a nova bandeira líbia: país islâmico começa a construir um novo modo de vida, depois de 42 anos de ditadura Benghazi ; Vestido a caráter, em um terno, Mansour Aied tem muitas razões para celebrar. ;Vivo aqui desde quando nessa praça só havia cabanas;, diz , referindo-se à Praça da Libertação (Midan Tahrir), em Benghazi. Assim como a Praça Verde, no Centro da capital, Trípoli, o local foi rebatizado durante os meses de guerra civil para homenagear aqueles que se rebelaram contra os 42 anos de ditadura. Benghazi é a segunda maior cidade da Líbia e berço do levante que derrubou o regime de Muamar Kadafi.

Na quinta-feira, diferentes brigadas do leste do país envolvidas no conflito iniciado em fevereiro participaram de uma reunião na cidade. Foi o primeiro ensaio com o objetivo de formar o futuro Exército nacional. A ocasião marcou o reencontro dos revolucionários (em árabe, thuwar) servindo em diferentes unidades por todo o país.

Sobre a origem do terno de gala, Mansour conta que a roupa foi adquirida na cidade de Al-Bordi. ;Estávamos em patrulha e encontramos ancorado o iate de Saadi Kadafi (um dos filhos do ex-líder líbio). Acredito que o terno e o chapéu sejam dele.;

As forças revolucionárias são compostas por uma mistura de voluntários e unidades desertoras. Agora, com o fim das operações militares contra as forças do antigo regime, o desafio imediato é assegurar que as milhares de armas espalhadas por todo o país sejam entregues a uma autoridade central, ainda provisoriamente representada pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), formado no início do levante.

Aied na Praça da Libertação: ele jura ter retirado o terno que usa do iate de um filho de Kadafi

As operações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar ocidental, serão encerradas hoje, apesar de o CNT ter solicitado a permanência das tropas até o fim do ano. Soldados britânicos que participaram da ação contra as forças leais a Kadafi começaram a deixar o país e retornar para o Reino Unido.

Diante da incerteza sobre o futuro, a expectativa é sobre como será feita a transição para a tão proclamada democracia. O país não dispõe de instituições políticas sólidas e o trabalho de reconstrução deve ser longo. No exterior, há o receio de que o vácuo de poder criado com a queda do antigo regime dê espaço para que grupos fundamentalistas ganhem força, minando as aspirações democráticas que embalaram a revolução de 17 de fevereiro. A suspeita ganhou fôlego após a declaração do primeiro-ministro interino, Mahmoud Jibril, durante a cerimônia oficial que declarou a liberação da Líbia, no último domingo, em Benghazi, de que a sharia, ou lei islâmica, deverá servir como base das futuras leis do país.

Mesmo com uma enorme diversidade tribal, a religião muçulmana une a grande maioria da população líbia. A religiosidade se faz presente em vários aspectos da cultura no país, como no já tradicional rassasal;farah, ou tiros de celebração, que, em Benghazi, começam no fim do dia e se estendem até a madrugada. A manifestação, embora espontânea, já se tornou parte do dia a dia da cidade. Os rebeldes que retornam da frente de batalha disparam suas armas aos gritos de Allah u Akbar ; Deus é grande.

Mais do que uma conotação religiosa, a exaltação expressa muitas vezes apenas um sentimento de alegria, como afirma Haitan Sherri, 27 anos, que, antes da revolução, trabalhava como motorista de ônibus e voltou à cidade com a libertação do país, há uma semana. ;Só estou feliz por não ter mais que ir para o front.; O mesmo afirma o voluntário e fã da Seleção Brasileira Noor Din Ashur, 22, ferido durante o cerco a Sirte, cidade natal do ex-ditador e onde Kadafi se escondeu até ser morto. ;Estou feliz, e só agradeço a Allah.;

Rebeldes marcham em Benghazi: discussões sobre como formar o novo Exército do país

A maioria da população ainda vive a euforia das duas grandes conquistas: o fim dos confrontos e a morte de Kadafi. O futuro democrático do país, embora desejado, parece exigir mais um pouco de espera. ;A Líbia já era islâmico antes da guerra. É natural que seja regido por leis islâmicas. Ao contrário de alguns outros países, somos moderados;, afirma Mohammed Jauda, um publicitário de 38 anos que não acredita na imposição da sharia de maneira repressiva.

Jauda lutou no front em cidades como Brega e Adjabiya e retornou a Benghazi há cerca de um mês. Ele acredita que as conquistas da revolução não devem ser prejudicadas pelas divisões internas do país. ;Muito ou pouco religiosos, estivemos unidos enfrentando os mesmos riscos, rezávamos juntos entre as batalhas e a vitória nos uniu ainda mais;, diz. ;Nosso maior problema são aqueles que não lutaram quando era mais necessário, e agora tentam se aproveitar do nosso esforço buscando cargos e vantagens.;

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