Agência France-Presse
postado em 02/11/2011 20:54
PEQUIM - A China deu, na noite desta quarta-feira, um novo passo para se tornar uma grande potência espacial, ao realizar com sucesso o primeiro acoplamento entre duas naves não tripuladas, uma etapa crucial com vistas à construção de uma estação espacial chinesa, prevista para 2020.A Shenzhou ("nave divina") VIII se acoplou ao módulo experimental Tiangong-1, a uma velocidade de 28.000 km/h e altitude de 343 km sobre a superfície da Terra, segundo o Centro Aeroespacial de Controle de Voo, em Pequim, citado pela agência Nova China.
A nave, que servirá de módulo de treinamento para missões espaciais, foi lançada na terça-feira às 05H58 (locais, 19h58, horário de Brasília), da base de Jiuquan (noroeste), no deserto de Gobi, anunciou a Nova China.
A Shenzhou VIII e o Tiangong-1 ("Palácio Celestial-1"), um módulo de testes lançado em 29 de setembro, permanecerão acoplados durante 12 dias, antes de se separarem para voltar a se unir em uma data ainda não definida, disse Wu Ping, porta-voz do Programa Chinês de Voos Tripulados, citado pela Nova China.
Autoridades chinesas, entre elas o primeiro-ministro Wen Jiabao, assistiram à transmissão da operação do centro de controle, em Pequim.
"Isto vai permitir à China continuar a exploração do espaço em uma escala maior", declarou o encarregado dos voos tripulados, Zhu Jianping.
A habilidade no acoplamento era fundamental para o sucesso das pretensões chinesas de construir uma estação espacial, onde astronautas possam viver por vários meses.
A China vê seu programa espacial como um símbolo de seu status mundial, seus conhecimentos crescentes técnicos e também como uma expressão do sucesso do Partido Comunista em mudar o destino de uma nação, antes marcada pela pobreza.
O gigante asiático iniciou os voos tripulados em 1990, depois de adquirir tecnologia russa, e em 2003 se tornou o terceiro país a enviar seres humanos ao espaço, depois da ex-União Soviética e dos Estados Unidos. Em 2008, foi a bordo do Shenzhou VII que se realizou a primeira caminhada espacial chinesa.
O jornal chinês em língua inglesa Global Times admitiu que os benefícios dos investimentos da China em tecnologia espacial ainda não estavam claros, mas que o país "não tinha outra opção" que continuar com seu programa.
"Enquanto estivermos decididos a crescer no mundo, devemos correr riscos. Caso contrário, a China será uma nação com prosperidade, mas subordinada a outros poderes", ressaltou o jornal em editorial na terça-feira.
A bordo da Shenzhou VIII viajam dois manequins que enviam falsos sinais vitais, produzidos por uma máquina sobre respiração, temperatura corporal e pressão arterial, a fim de testar a transmissão de dados para a Terra, noticiou o jornal Notícias de Pequim,
Durante o tempo em que permanecer no espaço, a Shenzhou VIII servirá de bancada para 17 experimentos diferentes nos campos de ciências da vida e microgravidade, dirigidos por pesquisadores chineses e alemães.
"É a primeira vez que uma cooperação internacional é realizada no âmbito do programa de voo tripulado chinês no campo das ciências da vida no espaço", afirmou a porta-voz do programa espacial, Wu Ping.
"A Alemanha pratica experimentos em microgravidade de forma regular e tem competência particular neste campo", explicou à AFP Isabelle Sourbes-Verger, especialista do programa espacial chinês no Centro Nacional de Pesquisas Científicas francês (CNRS).
Em 2012, a China deverá lançar as naves Shenzhou IX e Shenzhou X, uma delas, tripulada. Duas mulheres fazem parte da tripulação de astronautas que treinam para esta missão, segundo a agência, e seriam as primeiras chinesas a voar ao espaço.