Renata Tranches
postado em 05/11/2011 08:00
Ora na mira de Israel, ora na dos Estados Unidos, o Irã partiu ontem para a contraofensiva e elevou o tom de seu discurso contra Washington. No aniversário dos 32 anos da ocupação da embaixada norte-americana em Teerã, uma das datas mais importantes para o regime islâmico, milhares de manifestantes acusaram os EUA de serem o ;principal organizador do terrorismo; no mundo. Alegação que, segundo o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, Saeed Jalili, será usada pelo governo iraniano em uma denúncia às Nações Unidas. Do outro lado, autoridades americanas afirmaram que o Irã é hoje a maior ameaça aos EUA, superando inclusive a Al-Qaeda. Para um analista iraniano consultado pelo Correio, as turvas relações entre Irã e Estados Unidos, que em mais de três décadas não deram sinais de progresso, entram em uma fase de recrudescimento que pode resultar em mais sanções contra a República Islâmica. No centro de Teerã, do lado de fora do complexo que abrigou até 1980 a missão norte-americana, manifestantes exibiam cartazes e gritavam frases que acusavam os EUA de ;terrorismo;. Ao discursar para a multidão, Jalili mostrou o que chamou de documentos que comprovariam atividades terroristas norte-americanas contra o Irã, e disse que eles seriam apresentados em uma acusação na ONU. A iniciativa não deve ser levada adiante, na opinião do analista iraniano Ali Banuazizi, diretor do Programa de Civilizações e Sociedades Islâmicas e professor de ciência política no Boston College, uma vez que as acusações não têm sustentação.
Desde o episódio da tomada da embaixada, em 1979, Irã e Estados Unidos se tornaram inimigos e as relações entre os dois países têm sido marcadas por seguidos desentendimentos, como as acusações de Washington de que o governo iraniano estaria patrocinando células terroristas no Iraque e no Afeganistão para atacarem suas tropas. ;São questões que, infelizmente, não têm tido nenhum tipo de progresso, embora o presidente Barack Obama tenha estendido a mão para o regime, com o objetivo de engajar o país em negociações;, afirmou Banuazizi. Na sua avaliação, isso pode resultar em mais uma rodada de sanções unilaterais contra a nação persa, tornando a vida dos iranianos ;muito mais difícil;.
Para deixar ainda mais evidentes as tensões entre os países, um alto funcionário afirmou em Washington que os EUA e seus aliados no Oriente Médio consideram o Irã a principal ameaça, superando a Al-Qaeda. No mês passado, agentes americanos divulgaram a conclusão de uma investigação segundo a qual autoridades de Teerã estariam envolvidas em um plano para assassinar o embaixador da Arábia Saudita em Washington e atacar outras representações. O regime dos aiatolás negou veementemente a acusação e disse que tudo não passaria de uma tentativa da Casa Branca de ;desviar a atenção dos problemas internos;.
Impasse nuclear
A situação se agrava à medida que se aproxima a divulgação de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre as atividades nucleares no país islâmico, na próxima semana. Antes mesmo de o documento ser publicado, Israel vem dando sinais repetidos de que poderia atacar preventivamente usinas e outras instalações nucleares iranianas, em especial as de enriquecimento de urânio. Os EUA e outras potências ocidentais acusam Teerã de desenvolver a tecnologia com a intenção de fabricar armas, embora o país garanta que seu programa nuclear tem fins pacíficos. No caso de ser atacado, o Irã promete uma resposta ;dolorosa;.
Embora pouco provável, essa possibilidade não deve ser descartada, na opinião do analista, e essa seria uma das razões pelas quais Washington não estaria de acordo com uma incursão militar israelense. ;Acredito que as consequências seriam desastrosas. A reação do Irã a esse tipo de ataque poderia deflagrar uma escalada de conflitos na região;, afirmou, acrescentando que os EUA estariam fazendo grande pressão para que Israel desista de qualquer plano.