postado em 06/11/2011 08:00
O governo da Colômbia conseguiu sua maior vitória contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Alfonso Cano, o chefe máximo da guerrilha mais antiga da América Latina, está morto. Pela primeira vez, uma ação militar minuciosa derrubou o número um do grupo armado. A estratégia militar do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, teve sucesso e deve causar um grande efeito sobre o conflito armado, que prevalece no país há quase 50 anos. O golpe na organização pode estabelecer uma nova fase de negociação entre as duas partes. Com a queda de seu comandante, a organização perde seu grande pilar ideológico e liderança política.
Na noite de sexta-feira, o presidente colombiano recebeu uma ligação que esperava há muito tempo. Desde agosto, o Exército da Colômbia estava em uma busca incansável e deliberada pelo líder das Farc. Em diversos momentos, os militares chegavam perto do acampamento de Cano, mas não conseguiam capturá-lo. Finalmente, na madrugada daquele dia, a Operação Odisseia bombardeou uma base da guerrilha nas montanhas do estado de Cauco, perto da cidade de Suárez. Quando as tropas terrestres chegaram ao local, o líder do grupo havia fugido outra vez. Porém, estava perto e enfrentou a última luta armada ao lado de seus homens. O governo conseguiu derrotar 33 anos de militância em uma ação de sete horas.
;Esse é o golpe mais contundente que as Farc já receberam em toda a sua história. Desmobilizem-se, caso contrário terminarão em uma prisão ou em um túmulo;, declarou o presidente Santos, logo depois de divulgar a notícia da morte do líder da guerrilha na cidade de Cartagena. O chefe de Estado comemorou o resultado de anos de planejamento e estratégia que começaram em 2006, quando assumiu o cargo de ministro da Defesa do governo de Álvaro Uribe. Eleito em 2010, ele ganhou destaque entre os colombianos por suas medidas em relação ao conflito armado e seu plano de defesa. O mandatário preferiu, no entanto, não cantar vitória. ;Não devemos ser triunfalistas, devemos perseverar e insistir até conquistar um país em paz ;, completou.
Para Eduardo Viola, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), ainda existe um longo caminho para dar fim ao conflito armado na Colômbia, mas as operações oficiais em busca de estabilização foram bem desenvolvidas. ;A morte de Cano é muito importante, mas ela faz parte de todo um processo de vitória do governo colombiano sobre as Farc. Desde de 2008, a guerrilha sofreu duros golpes na liderança e está cada vez mais deteriorada e desgastada. É impressionante como, nos últimos 10 anos, a Colômbia deixou de ser um país de desintegração e passou a se reestruturar e ter uma governabilidade de sucesso;, apontou o especialista.
Alfonso Cano, 63 anos, cujo verdadeiro nome era Guillermo León Sáenz Vargas, foi um dos poucos que acompanharam o desenvolvimento da maior e mais antiga guerrilha da América Latina. Apesar de ser conhecido pelo radicalismo de algumas operações, ele também parecia estar aberto para o diálogo (veja perfil na página ao lado). O líder máximo do grupo tentou negociações em 2002 e pouco antes da posse de Santos, em 2010, ele divulgou um vídeo em busca de uma saída para o conflito, mas não fez nenhum contato direito com o governo.
O número um das Farc foi morto ao lado de 14 militantes, quatro morreram ; inclusive sua ;companheira amorosa; ;, cinco foram presos e o restante conseguiu fugir. Foram confiscados sete computadores, 39 pen-drives e 24 hardwares no acampamento. O guerrilheiro foi encontrado quase irreconhecível pelos militares, sem os característicos óculos redondos e a barba acizentada. O líder foi levado para Popayán para a perícia e seu irmão mais novo, o ex-vereador de Bogotá Roberto Sáenz, viajou até lá para reclamar o corpo.