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Abdullah II, rei da Jordânia, defende renúncia do presidente sírio

postado em 15/11/2011 08:48
Bashar Al-Assad enfrenta um isolamento crescente no mundo árabe. Ontem, o rei da Jordânia, Abdullah II, declarou que o ditador sírio deveria considerar os interesses de seu povo e renunciar. O monarca foi o primeiro chefe de Estado da região a falar abertamente sobre o assunto, dois dias depois de a Liga Árabe ter decidido suspender a participação da Síria no grupo. A União Europeia também engrossou o coro contra a repressão no país. Durante uma reunião, os embaixadores do bloco acertaram a ampliação de sanções contra autoridades sírias ligadas aos atos de violência. Segundo as forças de oposição, 35 pessoas morreram ontem em confrontos com tropas de Al-Assad ; desde o início do levante, em 26 de janeiro, cerca de 3,5 mil pessoas foram mortas.

Em uma manobra para aumentar a pressão sobre o ditador, Abullah II afirmou à emissora britânica BBC que, no lugar de Al-Assad, sairia do comando. ;Se ele tem consideração por seu país, deixaria o cargo, mas também poderia criar a capacidade de começar uma nova fase da vida política síria;, sugeriu o monarca. Outros países, como Turquia e Irã, já haviam alertado o regime sobre a necessidade de aplicar reformas, embora sem tanta ênfase como o rei jordaniano. Os aliados de Al-Assad continuam denunciando o que consideram ser um golpe do Ocidente ao país.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, afirmou a jornalistas que a determinação da Liga Árabe foi equivocada. ;A decisão de suspender a Síria representa um passo perigoso;, disse o chanceler. ;A Síria paga o preço de suas posições firmes, mas não se dobrará e sairá mais forte, pois os complôs planejados contra o país fracassarão;, exaltou. Alinhado a essa ideia, o governo da Rússia condenou o veredicto das nações árabes. ;Aqueles que tomaram essa decisão perderam uma oportunidade muito importante de tornar a situação mais transparente;, declarou o chanceler russo, Sergei Lavrov, à agência de notícias estatal RIA. A Rússia e a China possuem poder de veto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e conseguiriam impedir uma eventual intervenção na Síria, aos moldes da que ocorreu na Líbia. ;A Síria não é a Líbia. O cenário líbio não se repetirá, o povo sírio não deve ficar preocupado;, bradou o chanceler Walid Muallem.

Acordo
O Conselho Nacional Sírio (CNS) ; organismo que congrega as forças da oposição ; deve se reunir hoje com a Liga Árabe. A ideia é chegar a um consenso sobre a transição para a democracia. ;Esperamos sair (do encontro) com um mapa que conduza ao reconhecimento do conselho como órgão representativo da revolução e do povo sírio;, afirmou ao Correio o ativista Ausama Monajed, membro do CNS. ;Também queremos discutir a questão da proteção internacional aos cidadãos, uma vez que as atrocidades cometidas por Al-Assad e seus aliados estão além da imaginação.; Alain Juppé, ministro das Relações Exteriores da França, já se posicionou favorável a esse tipo de intervenção. ;Devemos avaliar como podemos proteger mais a população;, apontou o mandatário. A França coordenou a missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em território líbio, em outubro.

Assim como Juppé, outros líderes europeus que se reuniram em Bruxelas demonstraram preocupação com a crescente escalada de violência na Síria. O grupo ampliará as sanções ao país árabe, que começaram em setembro. Atualmente, as medidas incluem a não concessão de vistos a 56 pessoas e o endurecimento das relações com 19 empresas e entidades sírias. Na reunião de ontem, ficou determinado que esses números devem aumentar. O bloco europeu endossou a decisão de interromper o acesso da Síria ao Banco Europeu de Investimento e manteve o embargo às importações de petróleo e à principal empresa do setor de celulares, a Syriatel.

A pressão internacional, contudo, não deve diminuir a repressão aos opositores de Al-Assad. ;Conhecendo o regime, ele provavelmente ficará mais firme, e a opção pela segurança será expandida;, disse à agência France-Presse Joseph Bahout, especialista sírio da universidade Sciences-Po, em Paris. A expectativa dos analistas é que outros países se mobilizem para buscar o fim da violência na região. ;Agora que a Liga Árabe tomou uma ação crucial, é hora de o Conselho de Segurança da ONU finalmente tomar uma posição e fornecer uma resposta internacional efetiva à crise de direitos humanos;, avalia Philip Luther, chefe da Anistia Internacional para o Oriente Médio e o Norte da África. É o que Monajed espera. ;Agora que a Síria está por trás da causa, a comunidade internacional terá mais influência e ;aptidão; para lidar com a questão;, aposta.

Efeito positivo

;As sanções impostas pela União Europeia são benéficas, porque afetam membros do regime. Temos de compreender que o regime e seus aliados não são guiados por ideologias, e sim pela ganância e pela corrupção, que se traduzem em interesse próprio e em egocentrismo. Portanto, a única maneira de atingi-los é olhando para essas figuras individualmente. A suspensão da Síria na Liga Árabe não vai diminuir a violência contra a população, mas foi o primeiro passo para garantir a proteção internacional aos sírios.;

Ausama Monajed, membro do Conselho Nacional Sírio

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