Mundo

Autor de massacre que matou 77 pessoas em Oslo se diz "cavaleiro"

Renata Tranches
postado em 15/11/2011 08:49
O extremista de direita Anders Behring Breivik, autor confesso de um atentado a bomba e um tiroteio que terminou com a morte de 77 pessoas em Oslo, há quase quatro meses, declarou-se ontem um ;líder da resistência;, na primeira audiência judicial desde o massacre, em 22 de julho. Ele tentou ir além e explicar o ato, mas foi impedido pelo juiz, que não queria ver a corte transformada em plataforma para as ideias radicais do acusado. Apesar das alegações de insanidade, o magistrado sinalizou que Breivik tem condições de responder a julgamento, previsto para ter início em abril de 2012. Até lá, ele permanecerá sob custódia, situação em que se encontra desde o dia da chacina.

A audiência de ontem foi a terceira de Breivik, mas a primeira que pôde ser acompanhada por familiares de vítimas, sobreviventes e cidadãos que conseguiram lugar em uma das três salas abertas para a sessão. Com barba e vestindo terno escuro, camisa branca e gravata azul clara, Breivik solicitou permissão para falar com o público, pedido negado pelo juiz Torkjel Nesheim. Segundo o magistrado, que determinou também o controle sobre as visitas e a correspondência do acusado, não há evidências de que Breivik seja insano, nem que tenha agido com ajuda de cúmplices. Uma avaliação de psiquiatras forenses dirá se ele é considerado penalmente responsável.

Ministro renuncia
Diferentemente do clima de unidade e comoção nacional que se seguiu aos ataques, a sociedade norueguesa está concentrada na busca de respostas e cobra explicações das autoridades. Nesse cenário, descrito ao Correio pelo carioca Leonardo Doria de Souza, funcionário da Secretaria de Integração Social e Diversidade de Oslo e testemunha do atentado à bomba no centro da cidade, a pressão já é tão grande que levou o ministro da Justiça a renunciar, na última sexta-feira. Knut Storberget foi duramente criticado pela atuação das forças de segurança. Ele decidiu deixar o cargo após a divulgação de um relatório sobre as medidas adotadas pelo governo norueguês.

Souza vive na Noruega há mais de 10 anos e é casado com uma norueguesa, com quem tem dois filhos. Falando à reportagem no dia dos ataques, ele disse acreditar que, assim que a comoção nacional passasse, os questionamentos sobre a conduta do governo viriam à tona, o que se confirmou. Ontem, o brasileiro afirmou que as perguntas vêm não apenas da sociedade, mas também dos partidos de oposição. ;Eles buscam as respostas há muito tempo;, relatou.

Na audiência de ontem, Breivik tentou aproveitar a primeira oportunidade para se manifestar em público. ;Sou comandante militar do movimento de resistência e cavaleiro templário na Noruega;, declarou o acusado, com voz tranquila. Depois, dirigindo-se ao juiz Nesheim, acusou-o de ser um ;delegado dos que apoiam o multiculturalismo;, que definiu como ;uma ideologia de ódio que quer a destruição da sociedade norueguesa;. Breivik foi rapidamente interrompido pelo magistrado, que justificou a decisão pelo desejo de não conceder ao extremista ;uma tribuna ou uma oportunidade para justificar seus atos;.

Segundo a agência de notícias Reuters, manifestantes exibiam diante do tribunal um cartaz no qual pediam que a corte não se transformasse em ;plataforma para o fascista;. Na sala de audiências, 120 pessoas assistiram à sessão, enquanto mais 400 acompanharam em auditórios superlotados equipados com circuito fechado de televisão

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação