Cairo - Três pessoas morreram neste domingo, vítimas de asfixia, depois de a polícia de choque empregar gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes na Praça Tahrir, no Cairo, elevando para cinco o número de mortos após dois dias de violentos confrontos no Egito.
Esses choques ocorrem a apenas oito dias das primeiras eleições legislativas desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro.
No início da noite, as forças de segurança e milhares de manifestantes se enfrentavam para tomar o controle da emblemática Praça Tahrir, foco da revolta popular que provocou a queda de Mubarak.
Os policiais haviam entrado brevemente na praça, mas foram obrigados a recuar para as ruas adjacentes, ante a resistência imposta por milhares de manifestantes presentes, retornando depois.
"Três pessoas morreram asfixiadas nos enfrentamentos" com a polícia antidistúrbios e a polícia militar, declarou à AFP Abdullah Abdelraman, que dirige um hospital de campanha na praça.
Os manifestantes enfrentavam com coquetéis molotov as forças de segurança, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, constatou um jornalista da AFP.
Os manifestantes gritavam palavras de ordem hostis ao poder militar, exigindo a saída do marechal Hussein Tantaui, que lidera o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), no comando do país desde que Mubarak foi expulso do poder.
"O Conselho das Forças Armadas mantém a política de Mubarak, nada mudou depois da revolução", declarou à AFP Khaled, de 29 anos, enquanto instalava uma tenda no centro da Praça Tahrir.
Várias pessoas recolhiam bombas de gás lacrimogêneo e cápsulas, enquanto outras varriam a praça repleta de restos incendiados.
Na noite de sábado para domingo, os confrontos deixaram dois mortos, um no Cairo e outro em Alexandria. Cerca de 750 pessoas ficaram feridas na capital, segundo o Ministério da Saúde. Os confrontos começaram no sábado pela manhã no Cairo e se estenderam para Alexandria, Asuán (sul) e Suez, no sul, às margens do Mar Vermelho.
Esses incidentes reavivaram os temores de que as eleições legislativas, que devem ser realizadas no dia 28 de novembro, sejam adiadas por vários meses.
Um dos membros do CSFA, o general Mohsen al-Fangari, assegurou que haverá eleições como previsto e que as autoridades estão em condições de garantir a segurança.
"Não vamos ceder aos pedidos para adiar as eleições. As Forças Armadas e o Ministério do Interior são capazes de manter a segurança dos centros eleitorais", declarou.
Várias personalidades políticas e intelectuais, entre elas o ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Mohamed ElBaradei, divulgaram um documento pedindo um prazo suplementar para essas eleições, como parte da revisão do calendário político do país.
As pessoas que assinaram o documento propõem que haja primeiro uma Assembleia Constituinte, depois eleições presidenciais e, por fim, legislativas.
Os militares decidiram que a eleição presidencial será realizada em uma data não determinada, ao término deste processo político, e que apenas passarão o poder aos civis depois que um novo chefe de Estado estiver eleito.