postado em 21/11/2011 08:24
A vitória esmagadora do Partido Popular (PP) nas eleições gerais da Espanha representou não apenas o fim de oito anos de hegemonia dos socialistas no poder. O histórico triunfo de Mariano Rajoy, que sucederá o premiê José Luis Rodríguez Zapatero, sinalizou uma guinada à direita da Europa e expôs o peso inclemente da crise econômica sobre o sistema político. Desde maio de 2010, Reino Unido, Holanda, Irlanda, Portugal e Dinamarca mudaram os rumos de seus governos. Os líderes da Grécia e da Itália também capitularam.
Com o desemprego afetando 21,5% da população, os espanhóis optaram por um governo conservador, seguindo os exemplos de Alemanha, Reino Unido, França e Itália. O Partido Popular de Rajoy conquistou 186 assentos no Parlamento ; superando a maioria absoluta de 176. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Zapatero e representado pelo candidato Alfredo Pérez Rubalcaba, obteve 110 cadeiras. O índice de comparecimento às seções eleitorais foi de 71,69%. Em 2008, o PSOE chegou a fazer 169 deputados, contra 154 do PP.
Rajoy preferiu conter a euforia e encarar seu desafio com realismo. ;A Espanha é uma grande nação e o melhor que ela tem são os espanhóis: 46 milhões de espanhóis que vão combater a crise;, declarou o novo primeiro-ministro, que toma posse em 20 de dezembro. ;Governarei a serviço da Espanha e de todos os espanhóis;, acrescentou. Ao mesmo tempo, alertou que ;não haverá milagres;, exortou a população a fazer um ;esforço solidário; e comemorou a maioria absoluta do PP no Parlamento. ;Ninguém tem que sentir inquietação alguma; não haverá mais inimigos, a não ser a greve e a crise;, disse. Rubalcaba, por sua vez, reconheceu a derrota e prometeu trabalhar ;com todas as forças;, em prol da recuperação da economia.
Para o alemão Jan Techau, diretor do Carnegie Europe e especialista em integração europeia, o domínio da centro-direita na Europa evidencia a crença do eleitorado de que os partidos conservadores gozam de maior credibilidade para lidar com a recessão. ;Segundo pesquisas, os europeus creem que os conservadores possuem competência para gerenciar questões econômicas e de negócios, a despeito dos socialistas ou dos social-democratas. De fato, os centro-direitistas parecem lucrar com a crise;, afirmou ao Correio, por e-mail.
Ciclo
Mas a essa explicação soma-se uma outra, mais simples. ;Trata-se de um fenômeno político cíclico;, sugere Techau, para quem o Velho Continente experimenta novas ideologias, de tempos em tempos. Ele lembra que, na década de 1990, a Europa era quase inteiramente governada pela centro-esquerda ; com os premiês Gerhard Schroeder, na Alemanha; Tony Blair, na Grã-Bretanha; Romano Prodi, na Itália; e Felipe González, na Espanha. ;Essa tendência tem mudado para a direita;, comenta. Techau adverte que o domínio da centro-direita na Europa ocidental não pode ser igualado ao popularismo de extrema-direita que mantém força mais ao leste. O analista considera a hegemonia centro-direitista mais teórica do que prática. ;Na realidade, a Europa é governada por um pragmatismo de centro, que implica em uma bela corrente de elementos social-democratas e conservadores;, opina. Ele explica que os conservadores Nicolas Sarkozy (França) e Angela Merkel (Alemanha) estão mais preocupados com a coesão social, as limitações econômicas e a reforma da assistência social do que com uma agenda mais rígida. ;Ambos mudaram suas posturas mais nacionalistas e orientadas ao mercado;, destaca.
A socióloga norueguesa Katrine Fangen, pós-doutora em ciência política pela Universidade de Oslo, acredita que a ascensão da política conservadora na Europa está relacionada à indisposição dos cidadãos em relação à aplicação do dinheiro público no bem-estar social ou em outras reformas, por parte do Estado. ;Temos visto o domínio de governos conservadores na maior parte da Europa, à exceção do norte, onde as políticas social-democratas ainda são fortes;, admite, lembrando que a Dinamarca mudou-se recentemente da direita para a esquerda, e a Noruega se mantém há anos como social-democrata.
Com os direitistas influentes na política europeia, aumenta o temor da radicalização da xenofobia ; abastecida pela recessão econômica. De acordo com Katrine, a escassez de emprego normalmente golpeia os imigrantes, acusados de roubar trabalho. ;A crise da Zona do Euro impulsiona o recrutamento de partidos populistas anti-União Europeia, com ênfase nas divisões nacionais. Temos visto uma recorrência do nacionalismo, quase sempre acompanhado de um discurso anti-islâmico;, observa. Techau concorda e entende que a Europa enfrenta um grande dilema. De acordo com ele, a crise fortalece as facções extremistas, sem causar impacto político sobre os governos. O fenômeno leva à xenofobia. Por enquanto, os partidos de centro-direita não parecem tentados a se mover mais à direita.