Agência France-Presse
postado em 22/11/2011 08:43
Cairo - O governo egípcio anunciou na segunda-feira sua renúncia no terceiro dia de confrontos violentos entre as forças de segurança e manifestantes que exigem que as Forças Armadas entreguem o poder aos civis, na pior crise desde a queda de Hosni Mubarak.Durante a madrugada, duas pessoas morreram em Ismailiyah, uma cidade do Mar Vermelho, o que eleva a 26 o número de vítimas fatais desde sábado.
Pouco depois do anúncio do governo, a televisão pública informou que as Forças Armadas rejeitaram a renúncia, mas o ministro da Informação, Osama Haikel, citado pela agência oficial Mena, afirmou que o Exército ainda não havia se pronunciado.
O Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), no poder no Egito desde a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro, convocou na noite de segunda-feira as forças políticas para uma reunião de emergência.
"O CSFA convoca urgentemente todas as forças políticas e nacionais ao diálogo para examinar as causas que agravaram a atual crise e os meios para se encontrar uma saída, o quanto antes, para se preservar a paz nacional", afirma um o comunicado.
O Conselho exorta "o conjunto das forças políticas e nacionales, e a todos os cidadãos, a se comprometer com o restabelecimento da calma e a criar um clima de estabilidade através de um processo político destinado a instaurar um regime democrático".
A reunião ocorre após o Conselho Supremo das Forças Armadas rejeitar a renúncia do governo do primeiro-ministro Esam Sharaf, reagindo ao anúncio do porta-voz do gabinete, Mohamed Hijazi, sobre a saída do governo devido a "circunstâncias difíceis que o país enfrenta atualmente".
Na manhã de segunda-feira, o ministro egípcio da Cultura, Emad Abu Ghazi, informou sua renúncia para protestar contra a reação do governo diante dos confrontos entre manifestantes e as forças da ordem no Cairo.
Os confrontos entre manifestantes e as forças de seguranças ocorrem uma semana antes do início das eleições legislativas, no próximo dia 28 de novembro, que durarão vários meses.
Os manifestantes exigem o fim do governo militar que se instalou após a renúncia de Hosni Mubarak, que acusam de perpetuar o antigo regime e seu sistema repressivo.
Esam Sharaf, nomeado para liderar o governo em março passado, era muito popular no movimento pró-democracia, mas sua imagem ficou manchada diante da tutela das Forças Armadas e da lentidão das reformas.
Para a Anistia Internacional (AI), o conselho militar no Egito não cumpriu as promessas e algumas violações dos direitos humanos cometidas desde que assumiu o poder são mais graves que as registradas no antigo governo.
Em um relatório divulgado nesta terça-feira, a AI cita uma lista "lamentável" de violações dos direitos humanos cometidas sob a autoridade do CSFA, que governa o Egito desde 11 de fevereiro.
"Ao julgar milhares de civis em tribunais militares, ao reprimir os protestos pacíficos, ao ampliar o campo da lei de Estado de emergência em vigor sob o regime de Mubarak, o CSFA tem perpetuado um sistema de repressão contra o qual os manifestantes de 25 de janeiro lutaram tão arduamente", afirmou Philip Luther, diretor interino da AI para o Oriente Médio.
"Aqueles que têm questionado o conselho militar - manifestantes, jornalistas, blogueiros, grevistas - têm sido objeto de repressão sem piedade, em uma tentativa de silenciá-los".
"O balanço sobre o respeito dos direitos humanos mostra que, após nove meses de poder no Egito, o CSFA tem afogado os objetivos e as aspirações da revolução de 25 de janeiro", denunciou Luther.