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Romênia anuncia esquema de proteção especial para suas florestas

Agência France-Presse
postado em 24/11/2011 14:18
Sinca - Faias centenárias crescem no centro dos Cárpatos. A Romênia, que possui a maior superfície de florestas virgens da União Europeia, quer proteger melhor esse "tesouro" do clima e da biodiversidade, uma tarefa árdua.

"Uma das fontes mais importantes de luta contra a mudança climática são as florestas", lembrou o ministro do Meio Ambiente romeno, Laszlo Borbely, a alguns dias da conferência sobre o clima na África do Sul.

As florestas virgens ou primárias - onde nenhum vestígio da atividade humana passado ou presente é claramente visível - representam 36% da superfície florestal mundial, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Encontra-se aí árvores centenárias, ao lado de espécimens mais jovens, formando um emaranhado, junto a vegetais já mortos.

Na Europa, estas florestas "selvagens" desapareceram em numerosos países, exceto na Escandinávia e na Europa oriental. A Romênia conta com uma superfície povoada, estimada em 250.000 hectares, constituída, em maioria, de faias, pinheiros e abetos, onde vivem lobos, ursos e linces.

Mesmo se sua superfície tenha sido reduzida, a partir do século XIX, as florestas virgens romenas foram preservadas, em parte, graças à dificuldade de acesso, explicou à AFP Erika Stanciu, diretora do programa Florestas, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) nos Cárpatos, destacando que o inventário ainda não está completo.

Mas as florestas estão, hoje, mais e mais ameaçadas. "Apenas 18% têm um estatuto especial de proteção", segundo o WWF que lançou, no final de outubro, uma campanha para "salvá-las".

"Uma vez exploradas de forma inadequada, as florestas virgens levam, com elas e para sempre, suas informações genéticas e ecológicas acumuladas ao longo de milênios", escreveu Victor Giurgiu da Academia romena, num artigo científico.

Uma petição do WWF pedindo "medidas urgentes e eficazes de precaução" recolheu 90.000 assinaturas em menos de um mês.

Na semana passada, o ministro pareceu compreender a mensagem e anunciou um projeto de lei que deve, até o final de 2011, colocar todas as florestas virgens numa zona de proteção estrita, sem possibilidade de exploração.

Os proprietários de extensas zonas, privados de uma eventual fonte de rendimento, vão receber compensações financiadas por fundos europeus, que dispõe, para isso, de 100 milhões de euros.

Um esquema experimental foi colocado em prática com sucesso, na região de Sinca (centro), onde a prefeitura aceitou não tocar numa parte de sua floresta virgem em troca de uma ajuda financeira do WWF.

"O compromisso público do ministro com as florestas virgens coroa de sucesso a campanha do WWF, mas vamos esperar para ver essas medidas aplicadas", declarou à AFP Gabriel Paun de uma Organização de defesa do meio ambiente, a Agent Green "escaldada por declarações não seguidas de uma resposta prática" por parte do ministério, no passado.

A sensibilização dos proprietários e a eficácia do controle serão cruciais.

A imprensa denuncia regularmente desmatamentos ocorridos nas florestas virgens por empresas privadas com a cumplicidade de autoridades locais.

O ministério destaca ter reforçado o controle com um aumento da fiscalização e apreensões (189.892 m3 em 2010 e 134.883 m3 nos seis primeiros meses de 2011).

O secretário de Estado para as florestas, Cristian Apostol, explica que esses resultados foram obtidos com a ajuda de policiais, vindos de outras regiões, para evitar cumplicidades locais.

As multas foram aumentadas. Mas, na justiça propriamente dita, os resultados são magros.

Apenas 0,5% desses processos levados ante os tribunais foram objeto de um julgamento definitivo desde 1990, segundo o ministro do Meio Ambiente.

"A justiça considera, na maior parte das vezes, que o desmatamento não representa perigo imediato para a sociedade", lamenta ele, prometendo enviar uma carta ao Conselho Superior da Magistratura para destacar a importância "da aplicação da lei nesse campo".

A indústria da madeira tem também grande responsabilidade na preservação, destaca a Agent Green que denunciou, recentemente, cortes ilegais realizados na Romênia pela empresa austríaca Schweighofer.

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