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Junta militar se desculpa pela violência e Egito vive tensão pré-eleitoral

Renata Tranches
postado em 25/11/2011 08:04
Tropa de choque ergue barreira para afastar manifestantes do Ministério do Interior, no Cairo: apesar das manobras da junta militar, mais um grande protesto está previsto para hoje
Sem conseguir chegar a um governo de transição consensual no Egito, para apaziguar os ânimos às vésperas das eleições da próxima semana, o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) anunciou o nome de um remanescente do regime de Hosni Mubarak para cuidar da missão. O ex-primeiro-ministro Kamal El-Ganzouri será encarregado de recompor o gabinete, que se demitiu no início da semana, sob o impacto dos confrontos entre manifestantes pró-democracia e as forças de segurança na Praça Tahrir, no Cairo, palco da revolução que depôs Mubarak, em fevereiro. Ontem (24), os militares se desculparam pelas 38 mortes ocorridas desde sábado, mas garantiram que as eleições parlamentares estão mantidas.

A violência na capital arrefeceu ontem, mas os ativistas continuam mobilizados para mostrar resistência ao papel que os militares querem exercer em um eventual governo civil. Em uma das propostas preliminares para a reforma da Constituição, o Exército preserva o direito de intervir na política e se mantém livre de controle civil. Os manifestantes insistem na saída imediata dos militares do poder, o que foi novamente rejeitado pelo SCAF. Um grande protesto é esperado para hoje.

A TV estatal egípcia informou que a junta militar passou horas reunida com El-Ganzouri, que teria concordado em liderar um governo de ;salvação nacional;. O político, de 78 anos, comandou o gabinete de 1996 a 1999 e foi responsável por algumas medidas de liberalização econômica. Segundo a agência de notícias Reuters, muitos egípcios o veem como um funcionário sem envolvimento com a corrupção, mas desconfiam de seu passado no regime de Mubarak.

Nesta semana, o nome do ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica Mohamed ElBaradei foi cogitado para o cargo de premiê. Segundo a TV Al-Jazeera, porém, ElBaradei teria pedido garantias de governar sem interferência dos militares, o que teria sido rejeitado pela junta.

Na opinião do egípcio Mohamed Ezz El-Din Mostafa Habib, vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp, os nomes escolhidos pelos militares são todos pertencentes a um mesmo grupo. Para ele, é a continuação de uma ditadura que teve início com o coronel Gamal Abdel Nasser, há 59 anos ; Mubarak tornou-se presidente em 1981. ;São gabinetes fracos, sem capacidade de fazer coisa alguma;, afirmou. ;A única alteração que fizeram foi a renovação das armas contra os civis, que já estavam esgotadas.;

O pedido de desculpas do Exército foi postado no Facebook, dois dias depois de um discurso com o qual o marechal Hussein Tantawi, ex-ministro da Defesa e atual homem forte, buscou acalmar os manifestantes. Sua fala, entretanto, foi criticada por não mencionar as mortes que teriam sido causadas por policiais. ;O Conselho Supremo das Forças Armadas lamenta e pede desculpas pelas mortes dos mártires, entre os leais filhos do Egito, durante os recentes acontecimentos na Praça Tahrir;, diz o comunicado, acrescentando que um acordo de trégua teria sido alcançado com representantes do movimento de contestação.

Agressão sexual
No mesmo dia, um tribunal decidiu libertar três norte-americanos presos durante os protestos no Cairo. Entre eles está a jornalista egípcio-americana Mona Al-Tahawy, que denunciou pelo Twitter ter sofrido violência sexual na prisão. ;Além de me golpearem, aqueles cachorros (a polícia antidistúrbios) me submeteram às piores agressões sexuais;, escreveu em seu microblog. Outra jornalista, a francesa Caroline Sinz, também alegou ter sido agredida sexualmente. Em entrevista à agência France-Presse, ela afirmou que uma ;multidão de homens; teria arrancado sua roupa na praça. ;Estava sendo linchada; denunciou, acrescentando que foi salva por algumas pessoas e levada de volta ao hotel.


JURAMENTO NA LÍBIA
Integrantes do governo provisório da Líbia juraram, ontem, fidelidade aos ideais revolucionários e à independência do país. Os novos ministros se comprometeram a organizar eleições nos próximos sete meses, embora a composição do grupo tenha sido criticada por povos Amazighs e por moradores da cidade de Benghazi, berço dos protestos que derrubaram o ditador Muamar Kadafi. Abdel Rahim al-Kib, primeiro-ministro do governo provisório, garantiu que vai representar todos os líbios. ;Haverá muitos empregos; os restos do antigo regime serão limpos e colocaremos, no lugar, homens e mulheres de todas as partes da Líbia;, prometendo ;compartilhar a riqueza com todos.;

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