postado em 25/11/2011 08:10
O ceticismo em relação à possibilidade de um futuro democrático tomou conta da população iemenita. Um dia após Ali Abdullah Saleh assinar um acordo para a transição de poder, homens leais ao presidente atiraram em uma multidão que protestava contra o acerto. Cinco pessoas morreram, todas integrantes do grupo Jovens na Revolução, responsável pelo levante que tenta, desde fevereiro, derrubar a ditadura de 33 anos. Os manifestantes reclamavam da imunidade concedida a Saleh ; que, conforme o documento, não será processado e poderá viajar ao Estados Unidos para fazer um tratamento de saúde. Testemunhas disseram que alguns dos atiradores vestiam o uniforme das forças de segurança.
Embora a assinatura do acordo tenha sido comemorada pela comunidade internacional, há perguntas ainda sem resposta. ;Ninguém sabe o que vai acontecer. O filho e os sobrinhos de Saleh ainda estão no comando de unidades militares;, disse ao Correio o professor Bernard Haykel, do centro de estudos sobre o Oriente Médio da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Além disso, muitos iemenitas duvidam que o ditador respeite o compromisso e realmente se afaste do comando do país. ;Trata-se de um homem que sempre mentiu, ninguém acredita muito nele;, lembra Haykel.
Para o especialista, que passou meses no Iêmen, o ditador topou assinar o acordo apenas para garantir sua viagem aos EUA. Saleh deve desembarcar em Nova York a fim de tratar lesões e queimaduras sofridas após uma invasão de opositores do regime ao palácio. Os iemenitas que marcharam rumo à Praça da Mudança, ontem, na capital Sanaa, também protestaram contra o partido islâmico Al-Islah. A legenda controla a parte sul do país árabe e é o principal componente do Fórum Conjunto, que assinou o documento com Saleh. ;Fórum Conjunto, Al-Islah, saiam depois do açougueiro (o presidente);, gritavam os jovens.
Abdulkader Alguneid, um médico ativista da cidade de Taiz, acredita que os iemenitas terão muito trabalho pela frente. ;Com Saleh fora, começa a verdadeira revolução;, disse ao Correio. O novo governo terá de retomar o controle do país, dominado pelo ditador e seus aliados. ;Ele tem monopólio sobre o exército, a segurança, a tesouraria, a mídia estatal e sobre o conhecimento. Isso não deve acontecer nunca mais;, opina o ativista.
Colaborou Renata Tranches