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Marroquinos vão às urnas e colocam reformas constitucionais em teste

Renata Tranches
postado em 25/11/2011 08:16
Sob as normas de uma Constituição reformada, o Marrocos vai às urnas neste sábado (26) para eleger o novo Parlamento e, indiretamente, determinar o futuro chefe de governo, que ganhará mais poderes e terá de ser escolhido pelo rei Mohammed VI entre os políticos do partido mais votado. Analistas ouvidos pelo Correio afirmam que as mudanças são paliativas e pouco mudarão a vida política marroquina, apesar da expectativa de que os islamistas do Partido Justiça e do Desenvolvimento (PJD) saiam na frente.

Entre outras prerrogativas, o novo premiê poderá dissolver o Parlamento, mas deverá governar em coalizão. Para o analista do Centro de Estudos Africanos (Portugal) Raúl Braga Pires, pesquisador da Universidade Mohammed V (Marrocos), é possível que o atual chefe de governo, Abbas Al-Fassi, continue no cargo. Seu partido, o Istiqlal (Independência), e a União Nacional dos Independentes devem ser os principais adversários dos islamistas. As pesquisas de intenção de voto são proibidas nas duas semanas que antecedem a votação.

Mobilizado pela onda de revoltas da Primavera Árabe, o Movimento 20 de Fevereiro, que surgiu durante as manifestações do início do ano, defendeu o boicote das eleições. Para Braga Pires, a posição representa ;uma maneira muito confortável; de não ir à votação. Caso resolvessem disputar o pleito, na opinião do analista, provavelmente teriam pouco apoio popular.

Pela falta de perspectiva de mudanças, havia o temor de que novos protestos tomassem as ruas após o sufrágio, mas essa possibilidade é descartada pelos analistas. No início do ano, após os protestos de rua por reformas democráticas, Mohammed VI propôs a reforma da Constituição, aprovada em referendo com 98% dos votos e 70% de comparecimento. Em razão desse apoio, na opinião de Pires, não haverá futuras contestações. Além disso, explica o especialista, trata-se de um país de grande diversidade, que tem no islã e na figura do monarca os principais pontos de convergência. ;As pessoas querem manter a segurança e a estabilidade que já têm;, avalia. Quando veem as imagens de países onde os protestos levaram à violência, como na Líbia e na Síria, os marroquinos ;querem assegurar sua tranquilidade;.

Mais cauteloso, André Krouwel, cientista político da Universidade Livre de Amsterdã, avalia que uma nova onda de protestos é pouco provável porque, na sua opinião, trata-se de um regime repressivo, que mantém uma elite ;calma; e aliada, graças a benefícios políticos e econômicos. ;O rei fala muito sobre democracia, mas não a põe em prática;, critica. Krouwel é o coordenador científico do projeto Bússola Eleitoral online (www.bosala.nl) para as eleições parlamentares no Marrocos.

Atritos
Lançada em parceria com a Radio Nederland e a universidade, a ferramenta foi criada com o objetivo de ajudar os eleitores a definir posições e escolher um candidato. Mas o projeto não foi bem recebido pela monarquia, e a parceria com a mídia e os acadêmicos teve de ser abandonada, para evitar represálias, segundo afirmou Krouwel à reportagem. O cientista político alegou ter tido vários problemas por conta do site, cujo domínio precisou ser transferido para a Holanda. ;O rei tem tentado tornar a nossa vida o pior possível;, afirmou.

Apesar das dificuldades, Krouwel garante que o projeto ; criado também para acompanhar as eleições parlamentares da semana que vem, no Egito ; continuará após a votação. ;Usaremos dados oficiais, se conseguirmos obtê-los, para contrapor aos nossos dados;, afirmou. O pesquisador garante que, por meio da ferramenta, pode identificar fraudes eleitorais baseando-se em informações oficiais, o que, segundo ele, ocorreu na Rússia. ;Você pode imaginar que alguns regimes não são muito nossos fãs;, brinca. O pleito de amanhã será supervisionado por 4 mil observadores marroquinos e estrangeiros.

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