Agência France-Presse
postado em 26/11/2011 11:05
PESHAWAR - O governo do Paquistão acusou a Otan de ter matado 26 soldados paquistaneses neste sábado (26/11) perto da fronteira com o Afeganistão, no pior episódio deste tipo em 10 anos e que provocou uma nova crise entre Islamabad e seus aliados ocidentais.Em represália, o governo do Paquistão ordenou imediatamente o bloqueio de todos os comboios de abastecimento da Otan no Afeganistão que passam por território paquistanês.
O ataque da Otan ocorreu na madrugada em uma zona tribal na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, um tradicional reduto de talibãs e da rede Al-Qaeda, que realizam ataques constantes contra tropas da Otan em território afegão.
[SAIBAMAIS]O governador da província de Khyber Pakhtunkha, Massud Kausar, disse que os ataques com helicópteros mataram 26 soldados e deixaram 14 feridos. "Saudamos nossos mártires", disse o funcionário à imprensa.
O primeiro-ministro, Yusuf Raza Gilani, protestou "nos termos mais enérgicos" perante a Otan e os Estados Unidos, país que dirige a coalizão internacional no Afeganistão, e realizou uma reunião de emergência em Islamabad com o presidente Asif Ali Zardari e com os chefes das Forças Armadas. Fontes das Forças Armadas paquistanesas afirmaram que o ataque da Otan foi "deliberado".
Em Cabul, a força internacional da Otan no Afeganistão (Isaf) confirmou que um "incidente ocorreu" e garantiu que realizará uma "investigação profunda", já que soldados paquistaneses "podem ter sido mortos ou feridos".
De acordo com Islamabad, helicópteros da Otan bombardearam durante a madrugada um posto militar paquistanês em Baizai, no distrito tribal de Khyber, na fronteira com o Afeganistão. Inicialmente, fontes da inteligência paquistanesas disseram que os mortos seriam entre 23 e 25 soldados. Pouco mais tarde, o Paquistão ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan no Afeganistão que passam por seu território.
Uma caravana de caminhões que se encontrava perto de cruzar a fronteira em Khyber "foi reenviada a Peshawar", principal cidade do nordeste do país, disse Muthair Hussein, responsável pela administração de Khyber, por onde pasam as cargas de provisões da Otan.
Nos últimos anos, o Paquistão denunciou por diversas vezes a violação do espaço aéreo nacional por parte da Isaf. A última crise ocorreu em setembro, quando Islamabad acusou a força internacional de matar dois soldados paquistaneses.
Já nesta oportunidade Islamabad ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan. A fronteira ficou fechada por duas semanas, e só foi reaberta depois que o governo dos Estados Unidos pediu desculpas formalmente.
A grande maioria das provisões da Otan no Afeganistão chega por barco até Karachi, porto do sul do Paquistão, e depois transita por terra através de Peshawar e pela fronteira de Khyber, ou através de Quetta e da cidade fronteiriça de Chaman.
As zonas tribais do nordeste do Paquistão são um reduto dos talibãs e o principal santuário da Al-Qaeda. Os Estados Unidos, que fornecem dois terços das tropas da Otan no Afeganistão, bombardeiam regularmente estas regiões com aviões não tripulados.
Islamabad protesta apenas levemente por estes bombardeios que matam combatentes talibãs ou da Al-Qaeda, mas é enérgico quando fazem vítimas entre a população civil.
Os Estados Unidos acusam regularmente o Paquistão de fazer um jogo duplo e de sustentar clandestinamente rebeldes talibãs para defender seus interesses estratégicos no Afeganistão, de onde a Otan pretende retirar todas as suas tropas antes do fim de 2014.
As relações entre os dois países se deterioraram seriamente depois que um comando americano invadiu o espaço aéreo paquistanês e matou o então líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, na cidade de Abbottabad, no norte do Paquistão, em maio.