Agência France-Presse
postado em 28/11/2011 13:54
Washington - No cenário político americano, o ceticismo e a negação das mudanças climáticas estão mais fortes do que nunca, e especialistas afirmam que os debates globais abertos nesta segunda-feira em Durban, África do Sul, não conseguirão mudar essa tendência.Mas enquanto um acordo sobre as emissões de carbono permanece difícil de ser alcançado pela segunda nação mais poluente depois da China, alguns pequenos sinais de progresso emergiram nos níveis estaduais e individuais.
No mês passado, o estado mais populoso dos Estados Unidos, a Califórnia, aprovou regras para o mercado de carbono que começariam em 2013, com o objetivo de cortar emissões para os níveis de 1990 até 2020.
Tentativas anteriores de criar um teto e um sistema de negociação para combater a poluição no nível federal falharam devido a preocupações de que causariam um aumento nos custos da energia, uma perspectiva particularmente grave em uma economia já debilitada.
Também em outubro, um proeminente cético cuja pesquisa foi financiada em parte pelos bilionários conservadores Koch anunciou ter concluído que as principais projeções sobre mudanças climáticas estão corretas e imparciais.
"Nós confirmamos que nos últimos 50 anos, a temperatura subiu 0,9 grau Celsius. Este é o mesmo número que o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) aponta", disse aos parlamentares o físico Richard Muller, diretor do Projeto de Berkeley sobre a Temperatura da Superfície da Terra.
Muller afirma esperar que outros céticos concordem com seu trabalho, mas sua postura - aceita pela maioria dos cientistas - permanece sendo alvo de dúvida, principalmente entre republicanos que procuram substituir o presidente Barack Obama em 2012.
O republicano Jon Huntsman - que aparece mal posicionado nas pesquisas - aumentou a polêmica ao publicar no microblog Twitter no começo do ano: "para ser claro, acredito na evolução e confio na capacidade de os cientistas lidarem com o aquecimento global. Podem me chamar de louco."
De fato, muitos o chamaram de louco. Com o objetivo de angariar apoio conservador, os outros pré-candidatos republicanos levantaram dúvidas sobre as pesquisas sobre as mudanças climáticas nos debates recentes.
O país todo está dividido na questão, de acordo com a última pesquisa Gallup que mostra que 53% dos americanos veem o aquecimento global como uma ameaça séria, 10 pontos percentuais abaixo de anos anteriores.
"Nós temos um problema grande, domesticamente, em termos de realidade climática", disse Alden Meyer, diretor de estratégia e política da União de Cientistas.
Quando parlamentares não chegam a um consenso de que a mudança climática é um problema para o qual soluções precisam ser criadas, a paralisia é perigosa, de acordo com o deputado democrata Henry Waxman.
"A Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, votou 21 vezes para bloquear ações referentes às mudanças climáticas", disse em uma audiência este mês. "A história olhará para essa negação à ciência com profunda tristeza", emendou.
Mesmo uma ideia que foi inicialmente levantada durante o governo George W. Bush foi efetuada recentemente, quando o Congresso proibiu a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica de reorganizar seu pessoal para criar o Serviço Climático Nacional.
O deputado republicano Andy Harris afirmou que a "hesitação" de seu partido ocorre por conta das preocupações de que "serviços climáticos poderiam se tornar fontes de propaganda em vez de fontes científicas".
Especialistas têm poucas esperanças de que as conversas de Durban possam desacelerar a dependência americana em combustíveis fósseis.
De acordo com David Waskow, diretor de mudança climática da Oxfam America, os Estados Unidos poderiam fazer uma contribuição significativa resolvendo suas objeções à criação do Fundo Climático Verde.
O fundo, sugerido em 2009 na Cúpula de Copenhague, distribuiria, até 2020, ao menos 100 bilhões de dólares por ano para ajudar os países mais pobres a lutar contra as mudanças climáticas.
Waskow afirma que os pontos divergentes para Estados Unidos e Arábia Saudita é a "arquitetura institucional, a estrutura, não o dinheiro".
"Nós temos esperança de que os Estados Unidos darão um passo à frente", disse Waskow.