Yangun - A opositora birmanesa Aung San Suu Kyi mostrou-se prudentemente otimista nesta sexta-feira (2) em relação à chegada da democracia ao seu país, ao receber calorosamente a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, na casa onde foi prisioneira por muitos anos.
Hillary abraçou a ativista ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em sua chegada à velha casa em Yangun. Foi uma cena inimaginável até o ano passado, já que a "Dama de Yangun" era mantida em prisão domiciliar.
Suu Kyi ofereceu seu apoio à primeira e histórica visita de um chefe da diplomacia americana ao seu país em mais de meio século e também ao encontro de Hillary com os novos dirigentes do regime civil, que substituiu a junta militar dissolvida em março.
"Tenho muita confiança no fato de que, se trabalharmos todos juntos, (...) não haverá um retrocesso no caminho para a democracia", disse na porta de sua casa.
O regime, que intensificou as reformas políticas nos últimos oito meses, ainda deve mostrar progressos, mas "esperamos conseguir isso tão rapidamente quanto possível", acrescentou.
Já Hillary mencionou ter visto "aberturas" nesta viagem de três dias, e que isso deu a ela "motivos para o otimismo". A secretária de Estado estava visivelmente feliz por seu encontro com o ícone da democracia birmanesa, abraçando-a em diversas oportunidades.
Durante um jantar particular na véspera, Hillary entregou a Suu Kyi uma carta pessoal do presidente Barack Obama, na qual o presidente garantia o firme apoio americano a ela.
Apesar da atmosfera calorosa, as duas mulheres expressaram suas preocupações em relação aos prisioneiros políticos (entre 500 e 1.600, segundo as diversas estimativas), e à violação dos direitos humanos nas regiões onde minorias étnicas lutam há várias décadas por uma autonomia maior.
"Para além do que fazemos nas zonas de maioria birmanesa, esperamos também programas e projetos similares nas regiões" das minorias étnicas, disse Suu Kyi, que também pediu a libertação de todos os prisioneiros políticos e que "mais ninguém seja preso por expressar sua opinião".
Apesar de continuar marginalizada depois de ter passado a maior parte dos últimos 15 anos na cadeia ou sob prisão domiciliar, Suu Kyi tem participado nos últimos meses de diversas atividades políticas, e, mais do que nunca, é a interlocutora insubstituível das capitais ocidentais.
Sua Liga Nacional pela Democracia (LND), dissolvida pelos militares em maio de 2010 por ter anunciado o boicote às eleições de novembro, decidiu se registrar e apresentar candidatos para as próximas eleições legislativas parciais.
Suu Kyi anunciou pessoalmente nesta semana sua intenção de participar do processo eleitoral, pela primeira vez em sua carreira política.
A líder opositora estava em prisão domiciliar durante as eleições de 1990, que a LND ganhou. Mas a formação nunca pôde exercer o poder, e Suu Kyi foi libertada da prisão uma semana após as eleições de novembro do ano passado.
Durante o encontro, Suu Kyi e Hillary não discutiram o eventual fim das sanções econômicas contra Mianmar, apesar da aprovação da líder opositora ser importante.
No entanto, a líder birmanesa saudou o gesto de Hillary de apoiar as reformas, e, inclusive, se os progressos se mantiverem, a nomeação de um embaixador americano no país.
Ao fim da visita, Hillary anunciou um pacote de ajuda de 1,2 milhão de dólares (cerca de 890 mil euros) em favor da sociedade civil, para fomentar o microcrédito e a infraestrutura médica, e para auxiliar as vítimas de acidentes em minas.
No entanto, a secretária de Estado insistiu que o governo birmanês deverá fazer mais para que os Estados Unidos cancelem as sanções econômicas.
"A cada ação (do governo birmanês), responderemos com uma ação, e se houver progressos suficientes, evidentemente poderemos analisar o levantamento das sanções. (...) Mas, como já disse, estamos apenas no início do diálogo", afirmou.