Renata Tranches
postado em 04/12/2011 08:00
O momento não é dos melhores para o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin. A popularidade caiu, ele recebeu vaias em um evento esportivo e seu partido, o Rússia Unida, deve perder a maioria nas eleições legislativas de hoje, algo inédito para quem domina o cenário político há uma década. Mesmo com todo esse quadro, o homem forte da Rússia continua longe de qualquer expectativa real de fracasso. Indicado pela sigla como candidato a presidente nas eleições de 4 de março, Putin deverá sair vitorioso na disputa pelo mandato, que, pela primeira vez, terá a duração de seis anos, graças a um projeto seu aprovado no passado. Analistas avaliam que, mesmo que hoje o partido de Putin perca cadeiras na Duma (Assembleia Nacional da Rússia), isso não será suficiente para tirá-lo dos trilhos da vitória.
Acostumado a índices de popularidade que chegaram a alcançar os 90%, a última pesquisa sobre Putin mostrou que 67% dos russos têm uma opinião positiva sobre ele. Apesar da queda, continua com uma das mais altas aprovações entre os líderes mundiais. Presidido por Putin, o Rússia Unida também amargou índices menores nas pesquisas de intenção de voto divulgadas na semana passada, algo com o qual o partido não estava acostumado. Nas últimas eleições parlamentares, em 2007, a sigla obteve 64% das cadeiras, o que garantiu ao governo, comandado pela dobradinha entre Putin (como primeiro-ministro) e o leal presidente Dmitri Medvedev, uma ampla maioria legislativa. As últimas pesquisas, porém, estimavam em cerca de 56% a vantagem para o Rússia Unida este ano.
Menos de duas semanas antes das eleições, um episódio protagonizado pelo premiê levou muitos de seus críticos a especularem se seria aquele o ;fim da era Putin;. Em 20 de novembro, após a vitória do lutador de artes marciais Fedor Emelinako sobre o americano Mansion, Putin subiu ao ringue para cumprimentá-lo. Nesse momento, pego completamente de surpresa, o primeiro-ministro foi vaiado pela plateia. Apesar de o Kremlin tentar convencer a todos de que a vaia era para o lutador derrotado, a imagem vista na internet por mais de 530 mil vezes deixa claro que o alvo era mesmo o ;homem forte; da Rússia.
A economia sofre
Os desdobramentos negativos das últimas semanas são agravados por uma situação econômica enfraquecida, se comparada aos primeiros anos da década, quando Putin ocupava a Presidência (entre 2000 e 2008). O agravamento da crise econômica mundial tem feito a Rússia passar por grandes dificuldades. Nem isso, porém, deve atrapalhar os planos de Putin, na opinião do coordenador de relações internacionais e diretor acadêmico das Faculdades Integradas Rio Branco, Alexandre Uehara.
Uehara explica que Putin não só deve voltar à Presidência como também poderá permanecer nela por mais 12 anos. Em 2008, o então presidente conseguiu aprovar um projeto que estende o mandato de quatro para seis anos, com direito à reeleição. Medvedev não pode se beneficiar da medida, que passa a valer a partir do próximo ano, mas foi leal a Putin durante sua presidência e deverá ser recompensado com a função de premiê, caso o colega ganhe. ;Por mais que se queira criticar Putin, não vejo derrota. Ele pode perder algumas cadeiras na Duma, mas, neste momento, seu projeto político está se concretizando;, afirma Uehara.