Renata Tranches
postado em 04/12/2011 08:00
Confirmando o que vinha sendo prognosticado, os partidos islamitas saíram vencedores na primeira fase das eleições parlamentares egípcias e alcançaram cerca de 60% dos votos, segundo a imprensa do país. Apesar de a comissão eleitoral informar que não estava em condições de publicar os resultados detalhados, os números foram antecipados por alguns veículos de comunicação do Egito ontem. A participação nas eleições chegou a um recorde de 62% dos habilitados a votar. Com o avanço desses partidos no mundo árabe, cresce também a preocupação dos cristãos do Oriente e de seus aliados ocidentais, que temem sofrer perseguições e hostilidades em um eventual governo islamita, como mostrou um colóquio sobre o tema em Roma, na Itália, realizado ontem.
Segundo a agência de notícias Mena, a soma dos votos obtidos pelo partido da Irmandade Muçulmana, pelo Liberdade e Justiça e pelo salafista Al-Nour (que segue a corrente mais radical do Islã) fica um pouco abaixo de dois terços. A primeira fase das eleições legislativas do Egito foi realizada na segunda e na terça-feira passadas e abrangeu nove dos 27 distritos, entre eles, Cairo e Alexandria, os maiores do país. O anúncio dos resultados oficiais foi adiado pelo menos quatro vezes. Em entrevista ao Correio na semana passada, o embaixador do Brasil no Cairo, Cesário Melantonio Neto, explicou que uma greve dos apuradores, por questões salariais, estava atrasando o fim da contagem e o anúncio oficial. A segunda fase da votação começará em 14 de dezembro.
Uma reportagem do jornal Al-Ahram mostrou que, no distrito de Port Said, o Liberdade e Justiça levou 32,5% dos votos, enquanto o Al-Nur conquistou 20,7%. De acordo com a publicação, o liberal Wafd conquistou 14% e o Al-Wassat, que segue uma interpretação rígida da sharia (lei islâmica), obteve 12,9%. No distrito do Mar Vermelho, a coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana conquistou 30%, deixando a aliança secular Bloco Egípcio em segundo, com 15%. Em um comunicado, a Irmandade Muçulmana agradeceu aos eleitores. ;Hoje, temos de agradecer ao povo egípcio por sua confiança e tranquilizá-los de que sabemos quão grande é nossa responsabilidade;, dizia o documento.
Temores
Se, por um lado, há uma falta de renovação no Parlamento, por outro, o fortalecimento dos partidos islamitas no mundo árabe está preocupando cristãos da região. Em um colóquio realizado pelo Centro Cultural Francês de Roma ontem, representantes dessa corrente disseram que o crescimento e as ameaças salafistas têm feito os cristãos deixarem países como o Egito, a Tunísia, a Líbia, o Marrocos, a Síria, o Iêmen e o Iraque.
Alguns religiosos chegaram a expressar temor de um ;genocídio de cristãos;. No encontro, foi revelado que entre 30 e 40 mil coptas já saíram do Egito desde março. O presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Interreligioso, monsenhor Jean-Louis Tauran, disse que uma saída maciça como essa seria uma ;catástrofe; e pediu que as comunidades permaneçam no mesmo lugar. Tauran defendeu ainda a importância do diálogo entre as religiões como uma saída para as tensões. ;Nas difíceis condições atuais, só o diálogo pode nos salvar;, afirmou, segundo a agência de notícias France-Presse.
O tuíte do ano
Todos os anos, o microblog Twitter faz um levantamento para recapitular o que a empresa acredita terem sido os tuítes mais importantes do período, de acordo com o ;nível de impacto, relevância e ressonância; no mundo. A lista dos 10 principais tuítes foi encabeçada pelo movimento de transformação social e política no Egito, que terminou com a deposição de Hosni Mubarak.