Agência France-Presse
postado em 06/12/2011 18:31
WASHINGTON - A resposta cautelosa dos Estados Unidos frente ao lançamento da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) pressupõe um reconhecimento por parte de Washington do retrocesso de sua influência e da crescente autonomia da região, afirmaram analistas."Os grupos subregionais são potencialmente importantes representantes do hemisfério e podem ser parceiros úteis para os Estados Unidos", limitou-se a afirmar o Departamento de Estado diante do nascimento da Celac, um novo mecanismo de integração que expressamente exclui os Estados Unidos e Canadá.
Apesar de muitos dos presidentes reunidos em Caracas afirmarem que a Celac não vai contra ninguém, outros, como o venezuelano Hugo Chávez ou o equatoriano Rafael Correa, querem que esta substitua a Organização de Estados Americanos (OEA), à qual acusam de estar subordinada a Washington. "Os Estados Unidos aceitaram que mudaram, que não têm a influência ou o espaço que tinham na América Latina", afirmou à AFP o presidente do centro de análises em Washington Diálogo Interamericano, Michael Shifter.
A Celac "é uma expressão política de um distanciamento dos países da América Latina e do Caribe em relação aos Estados Unidos", disse. Até há algumas décadas "teria sido muito difícil imaginar" a formação de um bloco político semelhante, afirmou o analista.
Agora o Departamento de Estado "reconhece que a América Latina alcançou um nível de independência e autonomia e uma sofisticação política e econômica, que torna natural a existência desses grupos regionais", afirmou Cynthia Arnson, diretora do programa para a América Latina do centro Woodrow Wilson.
O lançamento da Celac ocorre em um momento em que o governo de Barack Obama volta a estar sem uma pessoa a cargo do escritório para a América Latina no Departamento de Estado.
Robert Jacobson foi nomeado pelo presidente Obama para substituir nesse posto Arturo Valenzuela, que deixou o cargo em julho passado, mas sua ratificação no Senado é uma incógnita.
O senador republicano ultraconservador Marco Rubio ameaçou bloquear a ratificação de qualquer cargo para a América Latina, incluindo o de Jacobson, em protesto pelo que considera uma política de "contemporização e fragilidade" de Obama frente à região.
Valenzuela, por sua vez, teve de esperar em 2009 seis meses por sua confirmação no Senado por conta do bloqueio de um senador.
Além disso, a cautela de Washington pode também dever-se ao fato de que a história da integração latino-americana, um objetivo perseguido na região há séculos, continua enfrentando obstáculos ideológicos, políticos e econômicos. "A atitude de todo mundo é esperar e ver se este será outro encontro onde há muitos discursos e fotos de grupos", mas sem maior capacidade de operar, disse Arnson à AFP.
O fato de que o Chile, um país próximo aos Estados Unidos, deter a presidência pro tempore da Celac é outro motivo de tranquilidade para Washington. "O tom da maioria dos presidentes na Celac é de não ter uma posição contra os Estados Unidos, mas uma organização regional que possa manter relações com os Estados Unidos", explicou Shifter.
Da mesma forma, a possibilidade de que a Celac substitua a OEA, que inclui todos os países do continente, apesar de Cuba continuar excluída, é no mínimo prematura. "Não haverá competição", porque a Celac "não tem uma estrutura, ou marcos normativos ou uma equipe profissional", como a OEA, afirmou Shifter. "Há muitas razões pelas quais a OEA está passando apuros, mas estou certa de que a Celac não é uma ameaça à existência da OEA", disse Arnson.