postado em 07/12/2011 08:00
A motivação não é a mesma que tomou conta dos povos árabes, mas os russos também estão saindo às ruas para protestar contra a situação política. Ontem, milhares de pessoas voltaram a marchar pelas ruas de Moscou e São Petersburgo, indignadas com as fraudes na eleição parlamentar do último domingo. A polícia prendeu 500 manifestantes, entre eles um dos líderes da oposição, Boris Nemtsov. Em resposta às críticas dos Estados Unidos e da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que apontaram manipulação dos resultados, o presidente Dmitri Medvedev deu o recado: os países ocidentais não devem se meter no assunto. %u201CMonitorar as eleições, as violações, é uma coisa, mas o sistema político não é da conta deles%u201D, disse.
Assim como na Primavera Árabe, os russos se mobilizaram pela internet. Na segunda-feira, a presença de 10 mil manifestantes surpreendeu os organizadores e o Ministério do Interior, que ontem reforçou a capital com tropas de sua força especial e blindados. %u201CAqueles que quiserem realizar marchas não autorizadas precisam entender que serão presos e terão de responder perante a lei%u201D, ameaçou a polícia, por meio de um comunicado. Cerca de 5 mil opositores saíram às ruas ontem, mas também partidários de Medvedev e do premiê Vladimir Putin se manifestaram %u2014 sem intervenção das forças de segurança.
Especialistas acreditam que os protestos contra o governo vão continuar e podem influenciar a campanha para a eleição presidencial de 2012. Pesquisas indicam a vitória de Putin, que já foi presidente e pretende voltar ao Kremlin apoiado pelo partido de Medvedev, o Rússia Unida, cuja vitória na eleição parlamentar motivou os protestos. %u201CTenho certeza de que as manifestações vão continuar, embora não haja nenhum candidato crível que faça oposição a Putin%u201D, afirma Bill Bowring, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Londres, em entrevista ao Correio. %u201CNão há dúvida de que o regime está mais frágil%u201D, completa Bowring, especialista em política russa e direitos humanos.
Em um artigo no site da emissora alemã Deutsche Welle, o jornalista Ingo Mannteufel, que trabalha na Rússia, diz que os protestos são o começo do fim da %u201Cdemocracia administrada%u201D na Rússia. %u201CAcima de tudo, os jovens educados da classe média, concentrados nas grandes cidades, começaram a mostrar seu descontentamento com o sistema político, a corrupção desenfreada e a ilegalidade resultante de um Estado arbitrário%u201D, escreveu Mannteufel.
Para o professor Bill Bowring, Medvedev e seus correligionários temem uma revolta semelhante à %u201Crevolução laranja%u201D de 2005, na Ucrânia. %u201CO regime sofre da %u2018paranoia laranja%u2019, a crença de que um movimento de massa semelhante possa aparecer na Rússia, financiado pelo exterior.%u201D Mesmo com a turbulência, há quem acredite que o regime sufocará os protestos sem arriscar a eleição de Putin. %u201CO ex-presidente vai tentar se distanciar do Rússia Unida. Ele é mais popular do que a legenda%u201D, analisa David Priestland, do Departamento de História da Universidade de Oxford. %u201CAinda assim, esse episódio é um golpe ao projeto de Putin e mostra que sua popularidade está diminuindo.%u201D