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Islamitas confirmam vitória no segundo turno de legislativas no Egito

Agência France-Presse
postado em 08/12/2011 14:49
Cairo - Os resultados oficiais do segundo turno das eleições legislativas no Egito confirmaram a esmagadora vitória dos islamitas, que obtiveram mais de três quartos dos assentos após a fase inicial desta primeira eleição da época pós-Mubarak.

As diversas organizações islamitas obtiveram um total de 113 assentos sobre os 168 em disputa nos dois turnos da primeira fase da eleição, segundo resultados fornecidos pela imprensa nesta quinta-feira.

A Irmandade Muçulmana acumula 80 assentos, seguida pelo partido salafista (fundamentalista) Al Nur ("A Luz"), com 33 assentos, nestes dois turnos das legislativas realizadas nos dias 28 e 29 de novembro e nos dias 5 e 6 de dezembro.

Os partidos liberais laicos obtiveram 33 assentos e os demais irão para os candidatos independentes ou para os pequenos partidos.

Os números podem variar de um jornal para outro, já que cada um fez seus próprios cálculos por partido com base em dados brutos fornecidos pela comissão eleitoral, sem, portanto, questionar as grandes tendências.

Estes resultados se referem ao primeiro terço das governações do Egito, entre elas as grandes cidades do Cairo e Alexandria. As outras regiões devem eleger seus deputados a partir de 14 de dezembro e até 11 de janeiro.

Os partidos islamitas contam com uma forte presença em diversas regiões rurais, que votarão nas próximas semanas, para consolidar as vantagens já obtidas.

O avanço dos salafistas, partidários de um islã rigoroso, surpreendeu seus rivais e os analistas já no primeiro turno.

No segundo turno, a diferença aumentou entre a Irmandade Muçulmana, que há mais de 80 anos organizou importantes redes na sociedade egípcia, e estes recém-chegados ao cenário político.

A Irmandade Muçulmana também tentou se diferenciar dos salafistas, apresentando-se como a expressão de um "islã moderado" e sem excluir a possibilidade de estabelecer alianças para além da corrente islamita.

A participação, de 52% no primeiro turno, caiu para 39% no segundo.

A eleição dos deputados do mais populoso país árabe, com mais de 80 milhões de habitantes, continuará desde o fim de janeiro até meados de março com a dos senadores.

O futuro Parlamento egípcio deverá formar uma comissão encarregada de redigir uma nova Constituição, etapa crucial para o equilíbrio dos poderes do Egito após a renúncia, em fevereiro, do presidente Hosni Mubarak, que reinou como autocrata no país durante três décadas antes de ser deposto por um movimento popular.

O exército no poder desde a queda de Mubarak prometeu entregar o poder aos civis depois de uma eleição presidencial prevista no mais tardar para o fim de junho de 2012.

No entanto, nesta quinta-feira a Irmandade Muçulmana anunciou a sua retirada de um grupo de contato com o Exército, acusado por ela de "marginalizar o Parlamento" encarregado de nomear a comissão.

Mohamed el-Baltagui, um dos dirigentes do partido "Liberdade e Justiça", ligado à Irmandade, indicou que a saída ocorre "após as afirmações do general Mokhtar el-Mulla", membro do Conselho Militar (CSFA), que dirige o país, nas quais garantiu à imprensa anglo-saxã que o Parlamento não terá a exclusividade das nomeações desta comissão.

"Consideramos que qualquer tentativa de marginalizar o Parlamento ou de reduzir suas prerrogativas em favor de qualquer outra entidade não eleita é uma forma de ignorar a vontade popular", declarou Baltagui à AFP.

O general Mulla, membro do CSFA e no comando desde a queda de Mubarak, assegurou que o futuro Parlamento não "será representativo" de todos os egípcios, segundo declarações divulgadas nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian.

Em consequência disso, ele afirmou que os nomeados para redigir a futura Constituição devem também ser aprovados pelo governo de transição e por esse "Conselho Consultivo", duas instituições controladas pelo CSFA.

[SAIBAMAIS]Na quarta-feira, o Conselho militar designou um novo governo de transição, dirigido por um primeiro-ministro, Kamal el-Ganzuri, com poderes reforçados para enfrentar a crise que afeta a economia do país e a degradação da segurança.

O CSFA informou que atribuía "as prerrogativas fornecidas ao presidente da República em virtude da lei, com exceção das que se referem às forças armadas e às instituições judiciais", sem dar mais detalhes sobre estes poderes.

Um grande número de manifestantes que ocupavam a praça Tahrir, emblemático foco da revolta de janeiro e fevereiro no Cairo, acampam agora em frente à sede do governo, para reafirmar sua rejeição a Ganzuri, que consideram como um vestígio do antigo regime.

Estes militantes pedem a saída imediata do poder militar.

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