Mundo

Putin e Clinton travam duelo com ar de Guerra Fria sobre denúncia de fraude

postado em 09/12/2011 08:17
Ela (Hillary Clinton) deu o tom para certos ativistas. Ela deu o sinal, eles ouviram e começaram a agir Vladimir Putin, primeiro-ministro da Rússia" />
Como nos tempos da Guerra Fria, Rússia e Estados Unidos voltam a protagonizar um conflito entre grandes potências ; pelo menos, no campo diplomático. Durante o dia de ontem, autoridades de primeiro escalão dos dois países trocaram acusações sobre o que teria impulsionado os protestos contra o resultado oficial das eleições legislativas do último domingo, na Rússia. O primeiro-ministro Vladimir Putin disse que a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ;deu o tom para certos ativistas;, que, segundo ele, teriam recebido ordens dos EUA para dar início às manifestações. ;Nada poderia estar mais distante da realidade;, respondeu o porta-voz de Hillary, Mark Toner.

Em sua primeira declaração desde o começo dos protestos, Putin afirmou que os opositores russos receberam um ;sinal; do Departamento de Estado norte-americano. ;Todos entendemos que uma parte dos organizadores atua de acordo com um roteiro conhecido;, alfinetou. ;A injeção de fundos estrangeiros nos processos eleitorais é particularmente inaceitável.; O premiê se referia a algumas organizações não governamentais, na Rússia, que são beneficiárias de fundos norte-americanos, ligados ou não ao governo. ;Mas, ao mesmo tempo, também é politicamente útil para Putin fazer tal afirmação. Isso desacredita seus adversários, que têm queixas legítimas;, pondera o historiador Stephen Bittner, que leciona na Sonoma State University, na Califórnia.

Apoiamos os direitos e as aspirações do povo russo a obter progressos e a esperar um futuro melhor Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA" />
Questionada sobre a acusação de Putin, Hillary disse apenas que os EUA darão respaldo ;aos direitos do povo russo;. ;Expressamos nossas preocupações, que consideramos fundamentadas, sobre as eleições. E apoiamos as aspirações do povo russo a obter progressos e a esperar um futuro melhor;, declarou. O ;bate-boca; diplomático vai contra um antigo costume da sociedade russa. ;Há um tabu de longa data, que vem da época dos czares: não jogue seu ligo para fora da cabana. Putin está acusando os opositores de estarem fazendo exatamente isso, em conluio com os americanos;, detalha Bittner.

Mea-culpa

Enquanto o primeiro-ministro e Hillary trocavam farpas, o presidente Dmitri Medvedev fazia um mea-culpa e garantia que haverá uma investigação sobre as irregularidades apontadas por observadores internacionais. ;Não há máquina eleitoral perfeita. As perguntas que os descontentes levantam sobre as eleições são razoáveis. Se há irregularidades, é preciso investigá-las, mas para isso há juizes;, ponderou. Poucos acreditam, no entanto, que isso será levado adiante. ;Putin e Medvedev parecem estar fazendo discursos contrários, mas tenho certeza de que eles acertaram o que cada um deveria dizer sobre essa crise;, observa Bill Bowring, diretor da pós-graduação em direitos humanos na Universidade de Londres.

Os especialistas da área se preocupam com a escalada da repressão na Rússia. A organização internacional Human Right Watch já havia publicado um alerta sobre a ofensiva do governo contra os descontentes, que deve se intensificar neste sábado ; quando milhares de pessoas devem se reunir na Praça da Revolução, no centro de Moscou. Mais de 28 mil internautas confirmaram, pelo Facebook, a participação no protesto. ;Está havendo um grande movimento para levar as pessoas às ruas;, lembra o professor Bowring. Segundo o jornal britânico The Guardian, há 50 mil policiais e 2 mil militares na capital russa.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação