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24º aniversário da intifada tem vingança de Palestinos contra sul de Israel

Palestinos lançam foguetes contra o sul de Israel, em resposta à morte de dois integrantes das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa. Líder do Hamas e diplomata israelense admitem influência da Primavera Árabe

postado em 10/12/2011 08:00
Moradores da Cidade de Gaza inspecionam casa destruída por avião-espião de Israel: campo de treinamento do Hamas teria sido o alvo do bombardeio, durante a madrugada
O 24; aniversário da intifada foi marcado ontem por sangue. Uma nova onda de violência, impulsionada pela Primavera Árabe, pode minar os esforços de paz no Oriente Médio e impôr sobre a região a ;lógica; da vingança. Desde quinta-feira, aviões-espiões israelenses sobrevoam a Faixa de Gaza e apontam alvos para a chamada tática de ;assassinato seletivo;. Ao menos três palestinos morreram em ataques desse tipo, nas últimas 48 horas. Militantes islâmicos intensificaram o disparo de foguetes Qassam em direção à fronteira ; no mesmo período, 13 já caíram no sul de Israel, sem provocar mortes.

Em entrevista ao Correio, a tenente-coronel Avital Leibovich, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), revelou que 600 artefatos foram disparados pelo movimento fundamentalista islâmico Hamas e por outras facções palestinas desde o início do ano; 15 neste mês. Segundo o jornal Haaretz, o escudo antifoguetes conhecido como ;domo de ferro; interceptou ontem um dos foguetes, perto da cidade israelense de Ashdod, a 38km da Faixa de Gaza. À noite, outros três projéteis caíram em áreas abertas, perto de Sderot, de Hof Ashkelon e de Eshkol. Durante a madrugada de ontem, a aviação hebraica teria atacado um campo de treinamento do Hamas, matando um civil e ferindo 13 ; incluindo mulheres e crianças.

Barry Rubin, diretor do Centro de Pesquisas Globais em Assuntos Internacionais (Gloria, pela sigla em inglês), sugere que a escalada de ataques com foguetes palestinos esteja ligada à dinâmica da Primavera Árabe, a revolta contra ditaduras do Oriente Médio e do norte da África. ;O Hamas sabe que contará com um regime amigável no Egito. E isso o torna mais agressivo;, explica. ;O grupo tentará arrastar os egípcios para uma guerra contra Israel;, emenda. Por telefone, da Cidade de Gaza, o deputado palestino Atef Adwan ; um dos líderes do Hamas ; admite que espera ter um aliado no Egito. ;Tanto o Hamas quanto a Irmandade Muçulmana são islamistas. Consideramos a vitória da entidade (nas eleições parlamentares) boa para nossa política;, explica. Adwan, um dos poucos moderados do grupo, afirma que a junta militar egípcia está incomodada com o cenário na Faixa de Gaza.

Mudanças
Com a experiência de quem atuou como conselheiro de política externa do ex-premiê Ehud Barak (1997-1999) e foi diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel (2000-2001), o diplomata Alon Liel vê o fator egípcio como importante. ;O Egito está mudando muito rapidamente. O triunfo dos islamistas tem impedido que Israel lance um grande ataque a Gaza. Uma operação de envergadura poderia significar a perda de uma futura aliança com o Cairo;, aposta, em entrevista por telefone, de Jerusalém. Ele concorda que o Hamas se sente mais seguro com o sucesso da Irmandade Muçulmana e descarta que a violência afete um suposto processo de paz. ;Há três anos, nada tem acontecido, em termos de negociações. Os palestinos estão ocupados demais com o reconhecimento de seu estado na ONU; os EUA só pensam nas eleições; e Israel está feliz porque ninguém o pressiona a sentar-se à mesa de negociações;, diz Liel.

A escalada do conflito teve início com mais um assassinato seletivo. Na quinta-feira, o estudante Nader Monzer, 24 anos, escutou o som da explosão do míssil lançado por um drone (avião-espião). ;Tudo ocorreu na Rua Omar Al-Mukhtar, em frente ao parque público Muntazah Al-Baladiya, no centro da Cidade de Gaza. Os dois morreram instantaneamente, e partes do carro ficaram espalhadas por um diâmetro de até 25m;, relatou à reportagem. Um dos mortos é Essam Al-Batsh, 43 anos, militante das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa.

Em outro incidente, no vilarejo de Nabi Saleh (Cisjordânia), o palestino Mustafa Tamimi, 27 anos, foi atingido ontem na cabeça por uma granada de gás lacrimogêneo e ficou gravemente ferido. ;O vilarejo realiza um protesto semanal contra a expropriação da terra, por parte de Israel. Os soldados israelenses respondem com violência. Mustafa fraturou ossos da face e teve hemorragia cerebral. Os médicos tentarão salvar seu olho;, contou ao Correio uma ativista que o viu inconsciente.

Mustafa Tamimi (E), após ser atingido por granada de gás lacrimogêneo, na Cisjordânia

Levante fracassado
A primeira intifada teve início em 9 de dezembro de 1987, no campo de refugiados de Jabaliya, e durou seis anos. O levante contra a ocupação israelense rapidamente se espalhou pela Faixa de Gaza, atingindo ainda Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. Ao menos 2,1 mil palestinos e 160 israelenses morreram durante os protestos e as operações militares das Forças de Defesa de Israel. Apesar de não terem obtido a independência, os palestinos conseguiram acelerar o processo de paz.

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