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Prazo dado por Bashar al-Assad vence hoje e Homs teme um massacre

postado em 12/12/2011 08:24

Termina hoje à noite o prazo dado pelo regime de Bashar Al-Assad para que os moradores de Homs encerrem os protestos pró-democracia. Na cidade considerada o centro do levante contra Damasco, 1 milhão de pessoas vivem a angústia e a incerteza ante a intensa movimentação das tropas, nas últimas horas. Elas temem que o ditador esmague a revolução com um massacre. Enquanto isso, em Busra Al-Harir e em Lujah, ambas situadas no sul do país, centenas de desertores do Exército sírio travaram uma batalha campal contra forças leais a Al-Assad. Um dos maiores confrontos armados desde o início da crise, em março, tornou a Síria ainda mais próxima de uma guerra civil.

;Nós preferimos a morte à fuga;, afirmou ao Correio, por meio da internet, Baraa Agha, uma síria de 21 anos que mora na Rua Al-Daplan, no centro de Homs. Segundo ela, os tanques e as forças militares ampliaram as manobras nos últimos dias. ;Os soldados cavaram buracos ao redor da cidade, especialmente no bairro de Baba Amr. Algumas pessoas dizem que as trincheiras vão acomodar os tanques. Outros cidadãos acham que as forças de segurança vão enchê-las de combustível;, relata Baraa. ;É claro que temo um massacre, mas não a morte. Tenho medo de matarem o nosso sonho de liberdade;, acrescenta.

O estudante Yazan Homsy, 25 anos, confirma o que seriam os preparativos para um massacre. ;Oficiais do Exército nos disseram que as trincheiras serão incendiadas e uma grande nuvem de fumaça cobrirá a cidade, ofuscando a ;visão; de satélites e aeronaves. Os soldados então promoveriam uma matança;, revela à reportagem. Em meio aos rumores de um horror a caminho, Yazan demonstra coragem. ;Continuaremos com os protestos e não recuaremos até que o regime caia, ainda que matem todos nós;, desafia.

A população de Homs atendeu aos pedidos da oposição e obedeceu ontem à greve geral. Mercados permaneceram fechados, as escolas e universidades não funcionaram e, à tarde, moradores saíram às ruas para protestar. A paralisação é parte da campanha de desobediência civil, convocada para pressionar o governo a pôr fim à repressão sangrenta. ;Por volta das 17h (hora local), um tanque disparou aleatoriamente nas casas e feriu várias pessoas;, conta Yazan. Pelo menos 22 civis foram executados ontem, nove deles em Homs, seis em Hama, três em Deraa, dois em Idlib e outros dois na periferia de Damasco. Os Comitês de Coordenação Local (LCC) denunciam a morte de quatro crianças neste domingo. Cinco soldados também teriam sido mortos.

O confronto de ontem, no sul da Síria, envolveu a 12; Brigada Blindada ; baseada em Ira, a 40km da fronteira com a Jordânia. Os militares atacaram Busra Al-Harir com dezenas de tanques de guerra apoiados por metralhadoras. A rede de tevê Al-Jazeera informou que o barulho de explosões e de metralhadoras era ouvido também em Lujah, uma área montanhosa ao norte da cidade e que serviria de esconderijo para desertores.

Eleições
Enquanto a violência prossegue, mais de 14,5 milhões de sírios estão aptos hoje a ir às urnas para escolher os governos locais. ;Pela primeira vez, o processo eleitoral será supervisionado por comitês judiciais e não pelo Ministério do Interior, como ocorria;, disse uma autoridade de Damasco à rede de tevê Al-Jazeera, sob a condição de anonimato. Yazan não se empolga com a ;democracia;. Segundo ele, na Síria não há eleições reais. ;Temos um único partido, o Baath Alachtrki, que sempre ganha o pleito;, desabafa. Baraa também ignora a escolha dos representantes. Questionada sobre a importância da eleição, ela rebate: ;Nenhuma, até me esqueci disso;.

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