Renata Tranches
postado em 13/12/2011 09:06
Enquanto se desenha o fim da guerra do Iraque, com a retirada das tropas norte-americanas e da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até o fim deste mês, a batalha pela influência sobre o país parece longe de terminar. Ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro Nuri Al-Maliki, o presidente Barack Obama mandou um recado a ;outros países; ; uma menção velada ao Irã ; para que ;não interfiram; nos assuntos iraquianos. Os Estados Unidos lideraram a invasão do país, em março de 2003, e deram início a uma guerra que já custou US$ 805 bilhões e dezenas de milhares de vidas, tanto de militares americanos quanto de soldados e civis iraquianos. Apesar da retirada, os EUA manterão o que Obama chamou de ;parceria abrangente;, que envolve a permanência no Iraque de mais de 6 mil diplomatas, consultores jurídicos, militares e econômicos, entre outros. Presença que, na opinião de um especialista ouvido pelo Correio, poderá causar surpresa pela abrangência, em 2012.
A Otan confirmou que todos o seu efetivo deixará o Iraque até o próximo dia 31. A missão deveria ser prorrogada até 2013, mas a aliança tomou a decisão após saber que Bagdá não poderia garantir a imunidade jurídica de seus soldados ; eles deveriam ser submetidos às leis iraquianas em eventuais julgamentos. A informação foi antecipada no domingo pelo conselheiro iraquiano de Segurança Nacional, Fala Al-Fayad. O motivo foi o mesmo pelo qual os EUA desistiram, em outubro, de manter um contingente militar residual.
Entre os funcionários norte-americanos, cresce o temor de que a relação entre Irã e Iraque, ambos países muçulmanos de maioria xiita, se estreite ainda mais após a saída dos militares ocidentais. Em novembro, uma reportagem da rede britânica BBC apontou que a influência de Teerã foi o principal motivo para que o governo iraquiano não fechasse um acordo para prorrogar a permanência das tropas americanas.
Na opinião do especialista Brian Katulis, do Center for American Progress (Washington), a disputa com o regime islâmico é hoje o tema central nas relações dos EUA com o Iraque. Apesar da saída das tropas, um grande número de militares continuará em missões de cooperação na área de segurança. Além do exército, também empresas privadas do setor, contratadas pelo governo norte-americano, continuarão a prestar serviços no Iraque. ;As pessoas poderão ficar surpresas com o grande número de militares dando suporte nos programas de segurança no Iraque;, disse o estudioso. ;Especialmente porque foram gastos bilhões de dólares em armamento para o governo iraquiano.;
Segundo Katulis, o Iraque tem pela frente um grande desafio no que diz respeito a garantir a própria segurança. Um dos setores mais afetados é a aviação, completamente destruída na guerra. Não por acaso, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Tommy Vietor, anunciou que seu governo sinalizou ao Congresso a intenção de vender ao Iraque mais 18 caças F-16.
No encontro com Maliki, Obama afirmou que seu governo se manterá ao lado do Iraque. ;Ao encerrar essa guerra, e quando o Iraque enfrentar o futuro, o povo iraquiano deve saber que não estará sozinho. Terá um parceiro forte e duradouro nos EUA;, afirmou. ;Nossos soldados sairão com honra e de cabeça erguida.; Maliki agradeceu a Washington por continuar dando assistência à reconstrução do Iraque e fez coro sobre a aliança. ;O relacionamento entre nossos países não terminará com a saída do último soldado americano;, prometeu o premiê.
Blackwater volta a mudar de nome
A empresa de segurança norte-americana conhecida como Blackwater, da qual o governo do Iraque suspendeu a permissão para operar depois de uma matança em 2007, mudou de nome pela segunda vez. O USTC Holdings, grupo de investimentos que há um ano adquiriu a Xe Services, segundo nome da Blackwater, anunciou ontem que a empresa foi rebatizada como Academi. A Blackwater ganhou o nome de Xe logo depois de o governo de Bagdá retirar, em janeiro de 2009, sua licença para operar no país. O motivo foi o assassinato de 14 civis iraquianos, em setembro de 2007, por guardas da empresa que protegiam um comboio americano.