Paris - A bandeira palestina foi hasteada pela primeira vez nesta terça-feira (13) em uma das organizações da ONU, a Unesco, em Paris, onde os palestinos conquistaram no dia 31 de outubro o status de membro pleno, apesar da oposição dos Estados Unidos e Israel.
No meio da manhã, sob uma chuva torrencial, a bandeira composta por um triângulo vermelho, prolongado por três faixas horizontais preta, branca e verde, foi içada na presença do presidente palestino Mahmud Abbas e a diretora geral da Unesco Irina Bokova.
Ao mesmo tempo, o hino palestino tocou na Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), com os aplausos de muitos representantes presentes.
Abbas, no meio da multidão, discursou emocionado antes de participar de uma coletiva de imprensa.
"É emocionante ver nossa bandeira hasteada hoje em uma sede da ONU", declarou Abbas em um discurso perante a sede parisiense após a cerimônia solene.
"Nossa admissão hoje é motivo de orgulho. A Palestina, a terra onde as civilizações se encontraram (...) volta a renascer. Apesar de todas as dificuldades impostas pelo bloqueio, sempre conservamos nosso patrimônio", explicou o líder palestino.
"É uma festa para nós. Uma vitória. Nós esperamos agora que a ONU reconheça o Estado Palestino tal como é. É mais difícil, mas vai acontecer um dia", declarou Abdelnasser Fakawy, líder do Fatah na França, o partido de Abbas.
No dia 31 de outubro, os palestinos obtiveram uma vitória diplomática ao se tornar o 195 Estado membro da Unesco, após uma votação esmagadora na conferência geral, onde apenas 14 países foram contra.
Esta adesão vai permitir que os palestinos depositem demandas de reconhecimento de cerca de 20 sítios arqueológicos e religiosos ao Patrimônio Mundial da Humanidade.
Os palestinos querem que a igreja da Natividade em Belém seja o primeiro sítio inscrito com o nome da Palestina já em 2012. Eles desejam também apresentar rapidamente a inscrição do túmulo do profeta Abraão em Hebron, um local santificado para muçulmanos e judeus.
O voto no fim de outubro provocou a ira dos americanos, para quem a adesão plena e inteira dos palestinos em organizações internacionais não pode ser feita antes de um acordo de paz com Israel.
Os Estados Unidos logo suspenderam seu financiamento para a Unesco. Duas leis interditam a Casa Branca de financiar uma agência das Nações Unidas que aceite a Palestina como Estado.
A decisão americana priva a Unesco de 22% de seu orçamento, um buraco de 65 milhões de dólares em 2011, mais de 143 milhões de dólares nos anos 2012-2013.
Isto forçou Bokova anunciar um plano drástico de economia, mesmo com o compromisso dos EUA de contribuir excepcionalmente com 10 milhões de dólares para a Indonésia e 2 milhões para o Gabão.
Por sua parte, Israel tomou fortes medidas de retaliação ao decidir acelerar a colonização em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, ocupando e congelando a transferência de fundos para as autoridades de Ramallah.
Finalmente, depois da pressão internacional, Israel retirou um mês depois o congelamento dos fundos, das taxas aduaneiras e da TVA, que representam dois terços das receitas próprias da autoridade palestina.
De fato, a adesão dos palestinos não teve impacto sobre a candidatura na ONU, onde eles ainda não têm a certeza de conseguir os 9 votos sobre 15 necessários para o Conselho de Segurança, o que forçaria os Estados Unidos a impor seu veto.
Embora este caminho pareça sem esperança, Mahmud Abbas reiterou, no dia 5 de dezembro, que os passos vão continuar no Conselho. Após a cerimônia na Unesco, ele se reunirá às 17h GMT com o presidente francês Nicolas Sarkozy, antes de viajar para Bruxelas na quarta-feira.
Uma alternativa, apoiada pela França, seria pedir um voto na Assembléia Geral da ONU, onde os palestinos têm a certeza de encontrar apoio da maioria dos países. Mas esta ação só reforçaria seu status, de "entidade observadora" passaria para "país não-membro observador".