Agência France-Presse
postado em 19/12/2011 14:47
Cairo - O governo sírio aceitou formalmente, nesta segunda-feira (19), depois de várias semanas de indecisão, a chegada de observadores árabes ao país, em uma iniciativa que a oposição imediatamente considerou como uma manobra para ganhar tempo.O vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faisal al Maqdad, assinou, no Cairo, um documento autorizando observadores, de acordo com um plano de saída da crise elaborado pela Liga Árabe que Damasco já havia aceitado "sem reservas" mas havia se negado a aplicar.
Em Damasco, o chanceler Walid Mualem garantiu, em uma coletiva de imprensa, que os observadores árabes seriam bem-vindos na Síria.
"A assinatura do protocolo (sobre a viagem dos observadores) é o início de uma cooperação entre nós e a Liga Árabe. Receberemos com satisfação a delegação dos observadores", acrescentou dizendo que "este entendimento será renovado em um mês, se as duas partes estiverem de acordo".
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Arabi, anunciou que uma primeira delegação chegaria a Damasco nos próximos três dias.
Dirigida por Samir Seif al Yazal, assistente do secretário-geral, a delegação será composta "por observadores da segurança, do direito e da administração", disse Arabi, que detalhou que as equipes incluirão também especialistas em direitos humanos.
As forças de segurança mataram, nesta segunda-feira, seis civis em Daraa (sul) e em Deir Ezor (leste), informou o opositor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Na província de Idleb, três soldados do exército regular sírio foram mortos nesta segunda-feira durante um enfrentamento com desertores, segundo a mesma entidade.
As tropas governamentais abriram fogo contra manifestantes no bairro histórico de Midan, em Damasco. Três pessoas, entre elas um menino, foram feridas, segundo o OSDH e os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizaram as manifestações no terreno.
Burhan Ghaliun, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS), que agrupa a maioria das correntes opositoras, considerou, em uma coletiva de imprensa na Tunísia, que as declarações de Mualem eram "uma armadilha para cobrir o fracasso do regime sírio".
Os relatórios dos observadores "serão enviados ao secretário-geral da Liga Árabe e a mim", disse o chefe da diplomacia síria.
Os observadores árabes "poderão ter acesso às áreas mais ;quentes;, mas não a pontos militares sensíveis".
De acordo com as Nações Unidas, a repressão no país já deixou um saldo de uns 5 mil mortos desde meados de março, apesar de o governo atribuir a violência a grupos terroristas.
"Vários países do mundo não querem reconhecer a presença dos grupos terroristas na Síria. Eles virão e verão quando estiverem aqui. Nós não devemos ter absolutamente nenhum medo", disse o chanceler.
A Liga Árabe tinha ameaçado a recorrer ao Conselho de Segurança da ONU ou à Rússia, um velho aliado da Síria e que recentemente bloqueou as resoluções de condenação ao regime de Damasco.
Na quinta-feira, a Rússia surpreendeu ao propor sua própria resolução de condenação da violência cometida "por todas as partes".
"Não há mudança na posição russa. Existe uma coordenação cotidiana com os (dirigentes) russos. Eles aconselharam a Síria a assinar o protocolo e nós fizemos isso", disse o ministro.